Usinas

Maximizando a produção de açúcar sem investimentos em novos equipamentos

Boas práticas ajudam a extrair da indústria o melhor de qualidade em açúcar

As exportações de açúcar ajudaram a balança comercial do agronegócio a crescer
As exportações de açúcar ajudaram a balança comercial do agronegócio a crescer

Alguns procedimentos realizados na usina podem aumentar a produção de açúcar em 10% a 15% sem muitos investimentos nas fábricas de açúcar. A afirmação é dos especialistas Luiz Paulo Sant’Anna, Diretor Geral da Cevasa, Fernando Cullen Sampaio, Assessor de Tecnologia Industrial – São Martinho, e Luiz Magno Tenório de Brito, Diretor Industrial – Usina Caeté S/A e Eduardo Calichman, Consultor da Calichman Consultoria, que participaram de um Webinar realizado pela UDOP, em abril.

Devido à queda na demanda e preços do etanol, as estimativas antes apontadas para uma safra alcooleira, passaram a indicar a maximização do açúcar como a iniciativa mais rentável. Segundo Sant’Anna, o Brasil sempre foi mais alcooleiro, mas devido ao cenário atual, muitas empresas precisaram rever seus planejamentos e mudar a planta para fabricar açúcar. “Nas estimativas da safra atual, estamos vendo 46% para fabricação de açúcar e o restante de etanol“, afirmou.

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Os especialistas indicaram algumas boas práticas para extrair da indústria o melhor de qualidade em açúcar branco ou VHP, entre elas, atenção com o planejamento estratégico, a prática operacional e o tratamento de caldo até a secagem. Como também com o tempo de cozimento. “Você pode ter a opção de aumentar a sua recuperação, mas forçando o tempo de cozimento para ter o esgotamento e em muitos casos, não vai ter a maior produção da sua fábrica”, afirma Sant’Anna.

Tratamento de caldo

 O tratamento de caldo é uma etapa de fundamental importância dentro do processo de produção de açúcar, seja VHP ou branco. De acordo com Fernando Cullen Sampaio, assessor de Tecnologia Industrial da São Martinho, para ter bons rendimentos, é essencial ter um xarope de boa qualidade com concentração de 62 a 65 de Brix e pureza elevada. Para isso é necessário fazer o monitoramento da matéria-prima e ter os devidos cuidados nos procedimentos durante todo o tratamento de caldo. “Não podemos perder pureza nas etapas do processo, a pureza do xarope tem que estar muito próxima da pureza da cana que entra na usina”, explica.

Segundo ele, o xarope precisa estar isento de material de suspensão e isso se resolve no tratamento do caldo e não na centrífuga do açúcar. “Assim como a cor baixa, obviamente, para cada tipo de açúcar há um parâmetro de cor e isso se resolve lá também no tratamento de caldo”, disse.

O profissional destacou que é essencial também retirar o máximo possível de cinzas e sais minerais no tratamento de caldo, pois atrapalham bastante a velocidade de cristalização. “O ideal é manter o pH do caldo acima de 6 para evitar a degradação do açúcar. O baixo teor de polissacarídeos também é essencial. É preciso monitorar amido e dextrana que são os dois principais elementos que aumentam a viscosidade da massa e também prejudicam a cristalização”, afirmou.

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Os dois polissacarídeos são muito similares e têm efeito bastante negativo no cozimento. O amido faz parte do metabolismo da cana e se concentra nas folhas e na ponta da cana. Para resolver essa questão e fazer um açúcar de qualidade é preciso despontar bem a cana. “Já a dextrana é formada por via biológica, pela ação de bactérias, resultado de uma cana pouco saudável, uma cana que demorou para chegar na usina”, elucidou.

Além do amido e da dextrana, existem outras impurezas vegetais que prejudicam o processo, como os compostos coloridos, entre eles, a clorofila. “São compostos fenólicos, que são precursores de formação de cor no processo e se concentram também na ponta e folha da cana. Por isso, é importante sempre trabalhar alinhado com a agrícola para trazer o menos possível de impureza vegetal para dentro do processo”, alertou, comentando que o limite ideal de impurezas é de 6% para impurezas vegetais e impureza mineral 8%. “Com a mecanização esses números foram aumentando e nossas referências passaram a 10% a impureza vegetal e continuam no 8% para impurezas vegetais”, disse.

 Uso de enzimas

O uso de enzimas se mostrou eficiente neste contexto. Sampaio relatou os resultados interessantes conseguidos a partir do uso de um coquetel enzimático desenvolvido por uma grande empresa de enzimas, que foi testado por dois anos na Usina Iracema, não só pensando na qualidade do açúcar, mas também em todo o processo com foco no SJM. O coquetel foi lançado recentemente no mercado.

 “O amido é praticamente zerado e tivemos um ganho significativo no SJM. No tratamento de caldo convencional, conseguimos retirar pouco amido, cerca de 25 a 30%. A enzima é um caminho para a gente resolver isso”, disse.

Antes com valores altos, as enzimas estão mais acessíveis e a evolução conquistada nesse setor e seus resultados positivos, justificam os investimentos, que devem chegar a R$ 100 mil neste ano, usando durante toda a safra, em dosagens bem baixas, contou o especialista.

“Quem quer produzir mais açúcar reduzindo os custos tem que saber otimizar os equipamentos que possuem”, afirma Sant’Anna, comentando que um ponto importante no tratamento de caldo é a questão da incrustação na evaporação e sua limpeza, que tem que ser bem feita. “É o processo de purificação, a evaporação é o processo de retirada de água, 80% do que vem na cana do caldo, será retirado na evaporação. Portanto, é preciso utilizar a sua evaporação o máximo possível, fazer o máximo possível de sangria que a evaporação permita e trabalhar com o vapor em mais baixa pressão nos tachos”, disse.

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Segundo o diretor, é vital trabalhar com algumas caixas cheias, o que vai diminuir a taxa de evaporação daquele corpo específico. Outro ponto importante, dentro de uma evaporação é a retirada de gases e de água condensada. “Quando se retira pouco ou não retira os gases condensados, a caixa vai esfriando ou vai jogar muito vapor fora e isso vai reduzir a capacidade da sua evaporação. Isso acontece também com a água condensada, tem que retirar bem para que ela não fique presa na calandra, o que fará com que se perca área de troca, já que a água pode ser usada em todo o processo de fabricação de açúcar”, explicou.

O especialista comentou ainda que no início da safra é normal começar a colheita em áreas de vinhaça, devido a isso, é importante a área agrícola ter um planejamento do corte com várias frentes, para diluir a entrada de vinhaça na indústria. “A grande quantidade de ácido aconítico vai trazer cinzas para o açúcar e torna-se uma dor de cabeça, no início da safra, para quem produz açúcar branco”, afirmou, sugerindo limitar um terço da moagem com canas vindas de área com aplicação de vinhaça.

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Outra dica foi em relação aos cuidados ao longo do processo. “A qualidade da fábrica começa na granagem, na qualidade da semente, que se usa e se essa semente vai se manter uniforme ao longo da safra para que se possa planejar as áreas de cortes necessárias, o modo de cozinhar e como vamos planejar a utilização dos tachos para esta concentração de cristais contidos na semente”, explicou Eduardo Calichman.

Segundo ele, a taxa de cozimento de cristalização tem que ser o “xodó” da fábrica, pois é ali que “a coisa nasce certa ou errada”. É preciso ter um cuidado redobrado nos tachos de cozimento para a cristalização do açúcar, verificando o duto de semente com relação ao pé de cozimento, verificar pureza, temperatura e brix ideal para que a semente não derreta durante o processo de cristalização. “São pequenos cuidados que fazem muita diferença para garantir o percentual de cristais, desde a granagem até o esgotamento real da massa”, disse.

Entre outros assuntos, Luiz Magno Tenório de Brito comentou sobre o uso da variedade RB92579. “No Nordeste conseguimos purezas altas nesta variedade, não tem problema de pureza como tem lá na região amazônica. É uma cana que tem alta produtividade, mas tem problema com a cor que atrapalha bastante a questão de produzir açúcar branco de qualidade”, disse.

Brito contou que é feito um trabalho junto a área agrícola, com o plantio no máximo de 30% a 40% dessa variedade. “É uma cana precoce, mas trabalhamos ela precoce e média, tem um bom resultado nesta época e a gente até consegue fazer açúcar de qualidade usando 60% dela. Temos evitado trabalhar a variedade no final da safra e procurado não passar de 40% do percentual desta cana na moagem”, finalizou.

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