Mercado

Gasolina verde: Brasil na vanguarda, enquanto Europa se prepara

Petróleo caro, dependência energética, efeito estufa: diante de tantos problemas, a Europa se interessa cada vez mais pelo biocombustível, a “gasolina verde” e ecológica promovida pelo Brasil, o país mais vanguardista neste setor.

Uma norma européia de 2003 fixa como objetivo para 2010 5,75% de integração energética do combustível de origem vegetal à gasolina e ao diesel. Mas não será possível atingir esta meta, segundo o Instituto Francês do Petróleo (IFP). “Os principais problemas do biocombustível são o custo e a disponibilidade na Europa”, explicou Olivier Appert, presidente do IFP.

O biocombustível custa muito mais do que a gasolina. Na Europa, o etanol produzido a partir de trigo ou beterraba custa entre 0,4 e 0,6 euro (1 euro = 1,3 dólar) o litro, muito caro para ser rentável e substituir a gasolina. Já no Brasil, o etanol de cana de açúcar custa apenas 0,17 euro o litro.

Além do custo alto, o biocombustível enfrenta na Europa um problema de oferta, já que concorre diretamente com os mercados alimentícios de beterraba, trigo e oleaginosas. O desenvolvimento do biocombustível no Velho Continente é ameaçado pela concorrência do Brasil, a ponto de especialistas preverem que no futuro será necessária a aplicação de medidas protecionistas.

“O Brasil é uma ameaça importante ao desenvolvimento do biocombustível, e a solução é negociar na Organização Mundial do Comércio (OMC) cotas de importação de etanol brasileiro”, sugeriu o presidente do IFP. Se a Europa incorporasse efetivamente o biocombustível como fonte de energia, tornaria-se um mercado excepcional para o gigante brasileiro. O Brasil espera aumentar sua produção de 154 milhões de hectolitros de etanol em 2004 para 240 milhões em 2010, enquanto na Europa a produção foi de apenas 4 milhões de hectolitros em 2003.

Profissionais agrícolas europeus, franceses em particular, estão preocupados com a enorme importância que o Brasil pode ganhar neste mercado. “Nosso desejo é que a chegada do Brasil seja progressiva. Caso contrário, o setor francês afundará”, comentou o diretor da Confederação Geral de Plantadores de Beterraba, Alain Jeanroy.

A concorrência anunciada surge em meio à “guerra do açúcar”, que opõe a UE e alguns produtores, entre eles o Brasil. Segundo observadores, a UE, condenada na OMC pelos subsídios às exportações de açúcar, poderia tentar sacrificar o etanol europeu em troca de uma anistia envolvendo o açúcar.

Banner Revistas Mobile