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"Importações de etanol são prejudiciais ao Brasil", afirma Renato Cunha, em entrevista ao Portal JornalCana

Renato Cunha
Renato Cunha

As recentes importações de etanol combustível são condenadas por Renato Cunha, presidente do Sindaçucar-PE, entidade representativa das unidades produtoras do biocombustível do estado de Pernambuco.

“[Essas importações] são fruto de uma miopia cômoda de alguns quanto a falta de plano regional de abastecimento”, afirma ele em entrevista ao Portal JornalCana.

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Portal JornalCana – Qual sua avaliação sobre as importações de etanol feitas em pleno início da safra de cana-de-açúcar na região Nordeste?

Renato Cunha – Prejudicam a produção local de etanol. Essa medida de liberar as importações de etanol às distribuidoras, por meio da Agência Nacional de Petróleo (ANP), atendem mais a ganhos financeiros do que a necessidades de mercado. Já iniciamos a safra 16/17 no Nordeste, com quatro usinas em Pernambuco e uma na Paraíba, que já estão fornecendo o biocombustível.

A maioria do etanol recentemente importado dos Estados Unidos chega ao Nordeste, às bases de armazenagem de Pernambuco, por conta da facilidade logística. Esse etanol concorre em espaço físico com o feito pelas usinas locais? 

Renato Cunha – Sim. A perspectiva é de que terminais de Suape [em Pernambuco] e outros do Nordeste estarão repletos de etanol importado e subsidiado até outubro próximo.

O que pode ocorrer com as usinas do Nordeste?

Renato Cunha – O cenário é muito negativo e adverso para a produção local, muito prejudicada pela chegada desnecessária desse etanol. Mas afeta também usinas de outros estados, como as de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e de Minas Gerais, que tradicionalmente complementam o abastecimento de etanol no mercado consumidor do Nordeste. Temos excedente. O Brasil não precisa importar, tem condições de exportar etanol.

Há outras previsões negativas para o setor sucroenergético nacional?

Renato Cunha – Essas operações de importação atendem a questões financeiras e comerciais, de operação de arbitragem, prejudicando a manutenção e a criação e o nível de produção da região do Nordeste, mais próximas dos EUA, onde as distribuidoras colocam o produto. Isso pode desmantelar e já há indícios de essas operações causarem prejuízos à produção local.

Fora a questão de falta de armazenagem para o etanol importado e o produzido pelas usinas, qual outro impacto negativo? 

Renato Cunha – A situação [de liberar a importação de etanol] é injusta. Cria um ônus ao país, com desemprego. No Nordeste, a cana gera mais de 250 mil empregos diretos. Se as distribuidoras estão importando etanol, não precisarão comprar das usinas. O que será delas? A concorrência é desleal, afronta os padrões de produção da indústria de cana do Nordeste. Traz intranquilidade e prejuízos expressivos, tangíveis e intangíveis, prejudicando a fluidez e fluxos de caixas das empresas.

O que o Sindaçúcar-PE tem feito em relação às importações?

Renato Cunha – Protocolamos carta junto ao ANP, que tem autorizado as operações. Elas são lesivas, autorizadas sem pagamento de tributos ao país. Não queremos afrontar o livre mercado, mas não entendemos como esse livre mercado não respeita a produção local. Todo país cria regra de protecionismo em seu país e no nosso caso o Nordeste está sendo prejudicado no caso do etanol.

Há outra medida prevista?

Renato Cunha – Fazemos esse alerta de forma construtiva, mas se situação perdurar, teremos de defender nossos direitos, que são justos. Produção nacional não pode ser preterida. Se até o fim do mês não houver uma solução, iremos à Justiça.

Que tipo de solução pode haver fora recorrer à Justiça?

Renato Cunha – Alguns mecanismos podem voltar, como o imposto de importação, que é uma forma de coibir. Isso já que bom senso e racionalidade não imperam. Temos que impor certos limites. Os EUA só importam açúcar dentro de determinada cota. A Europa tem mercado contingenciado, com barreiras, não abre seu mercado. E aqui no Brasil se abre com facilidade que não é correta. Daqui saem divisas.

Mas e no caso da importação de gasolina e de diesel?

Renato Cunha – Uma coisa é importar gasolina e diesel, já que a Petrobras não possui estrutura de refino suficiente. Mas o etanol brasileiro é limpo, de melhor qualidade na comparação com o do milho dos EUA. E temos até mais condições de produzir etanol acima do que é fabricado hoje.

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