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Açúcar: a queda mais rápida nos últimos doze anos

Confira artigo de Arnaldo Luiz Corrêa

Açúcar: a queda mais rápida nos últimos doze anos

Cumprindo a velha profecia que assevera que os fundamentos do mercado de commodities acabam prevalecendo aos ruídos irrefletidos e as narrativas delirantes, o contrato futuro de açúcar em NY encerrou a semana com o contrato para vencimento em julho/23 cotado a 24.43 centavos de dólar por libra-peso, um espantoso derretimento de 200 pontos, equivalentes a uma queda de 44 dólares por tonelada na semana.

Também sucumbiram à avalanche os contratos futuros com vencimentos para outubro/23, março/24 e maio/24 que tiveram depreciação de 37, 32 e 23 dólares por tonelada no acumulado da semana. Na média, os vencimentos que correspondem à safra 2023/24 do Centro-Sul perderam 110 dólares por tonelada, enquanto 24/25 e 25/26 encolheram 67 e 64 reais por tonelada, respectivamente.

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Em apenas três sessões o mercado futuro de açúcar em NY encolheu 235 pontos (26.48-24.13), desempenho que só encontra semelhança em setembro de 2011. Ou seja, a última vez que tivemos uma queda dessa magnitude num mesmo contrato no intervalo de apenas quatro sessões foi há quase 12 anos.

Os spreads também estreitaram desmistificando a difundida tese de falta de açúcar e de déficit mundial. A curva de curto prazo achatou e isso ocorre quando o mercado acorda e percebe que não existe falta de produto. O contrato expira a semana que vem. O que ocorrerá como os preços se houver uma enorme entrega física na expiração? Respire fundo.

O que os altistas nefelibatas não esperavam era a robustez desse início de safra que tem mostrado expressivos números de produção de cana acompanhados de alta produtividade. A Archer Consulting teve acesso a lista da tonelagem de cana por hectare de mais de 150 unidades e os números publicados impressionam. Na média, estamos vivenciando uma produtividade 20% maior do que a do ano passado com um volume de cana crescente.

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Arnaldo Correa

E os fundos agora parecem estar numa posição não muito confortável. Segundo os números publicados na sexta-feira pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, no COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes, os fundos aumentaram suas posições compradas com base na posição de terça-feira passada.

Com a consistente liquidação constatada na sexta-feira tudo indica que eles devem continuar a pressionar o mercado vendendo suas posições compradas.

A curva de preços de NY convertida em reais e ajustada pela inflação, pelo fechamento de sexta-feira apontava um preço médio em maio/23 de R$ 2,966. Já o fechamento do julho/23 na sexta-feira produzia R$ 2,679 por tonelada, ou seja, quase R$ 300 por tonelada abaixo do preço médio do mês anterior. R$ 300 por tonelada evaporaram enquanto você pensava se fazia o hedge ou não.

Nossa percepção é de que o nível de preço em NY pode retornar ao confortável e ainda lucrativo quarto quintil, posição que engloba 80% dos preços negociados nos últimos 23 anos e representa hoje 2,393 reais por tonelada. Esse nível, dada a estimativa do dólar médio para março/maio 2024 aponta para o açúcar em NY a 21.00 centavos de dólar por libra-peso. Ou seja, o mercado tem espaço para cair mais, sobretudo se olharmos o custo de produção dos países que concorrem com o Brasil. Dessa forma, nós acreditamos que NY pode atingir 22.00 centavos de dólar por libra-peso antes de Papai Noel entrar pela chaminé. A menos que algum desastre climático ou evento exógeno ocorra.

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Como existe uma limitação na capacidade de produção de açúcar, algumas usinas estão investindo na fábrica de açúcar com previsão de operação para a safra 2024/25 e depois. Os altos preços do açúcar (desde que elas tenham feito a lição de casa e fixado preços para a próxima safra ou utilizado algum instrumento financeiro de proteção) justificam o investimento e podem se pagar em menos de 2.5 anos. Algumas usinas acreditam que o retorno é em menor prazo.

A produção de etanol de milho se expande e deve ocupar parte do espaço deixado pelo etanol de cana abrindo a possibilidade para que as usinas que optem por expandir/construir uma fábrica de açúcar e usarem a cana para o produto que obtiver melhor rentabilidade. E isso vai ocorrer numa safra (a próxima) que promete ser ainda melhor que a atual e vai gozar do benefício de melhores tratos culturais com a extraordinária queda no preço dos insumos, além da cana bisada (estimada hoje em 15 milhões de toneladas sob a perspectiva de que algumas usinas não serão capazes de moer toda a cana disponível).

Resumo da ópera: vai ter muito açúcar o ano que vem. Atenção redobrada na política de hedge e não se apaixonem pela posição, ela costuma ser ingrata.

Arnaldo Luiz Corrêa é sócio-diretor da Archer Consulting

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