Mercado

´Vamos investir US$ 2,8 bi em biocombustíveis até 2013´

Em seus quase quatro anos à frente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli anunciou a conquista da autossuficiência brasileira em petróleo (2006); a descoberta do pré-sal (2007-2008) e a consequente listagem da Petrobras entre as maiores companhias de energia do mundo. E diz que tudo isso é fruto de uma política de governo possível graças à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

A Foreing Policy publicou uma matéria questionando o novo marco regulatório do pré-sal, principalmente no que diz respeito à participação do Estado na Petrobras. Citando os candidatos em evidência, a revista afirma que se José Serra vencer as eleições presidenciais de 2010, vai tentar reverter isso. Já se a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sair vencedora, as empresas internacionais terão que recorrer à Justiça. O que o senhor tem a dizer?

A Foreing Policy é uma think tan! k [depósito de ideias]liberal que tenta influenciar a opinião pública. Uma crítica sobre a presença do Estado vinda da Foreing Policy é normal. O contrário é que seria novidade. Acredito que a proposta do Governo para o pré-sal claramente aumenta o papel do Estado. E isso é necessário e importante porque é a tendência mundial na área do petróleo, que é um produto essencialmente vital e estratégico para a vida moderna.

Mas há exceções, como …

Os Estados Unidos não estão ausentes da indústria do petróleo. O Estado americano pode não estar diretamente produzindo, mas está atuando fortemente via estoque regulador, via estímulo às suas empresas, via regulações. No caso brasileiro, a nova regulação reflete uma realidade distinta da antiga. São diferenças importantes. A primeira é o acesso a capitais. A outra é o acesso à tecnologia. Hoje a Petrobras é a empresa que tem maior mobilização tecnológica e conhecimento, e opera 22% da produção de águas profundas no mundo…

Mas isso não é fruto de um longo processo?

Sim. Primeiro tem um processo de melhoria das condições macroeconômicas. Depois do controle da tecnologia. E, terceiro, o risco da área exploratória é muito baixo. Hoje você tem essa situação bastante distinta. Anteriormente era uma lei voltada a ajudar e a permitir que as empresas privadas capturassem todos os ganhos da atividade do petróleo.

O senhor acredita que se o presidente Lula não tivesse sido eleito em 2002 e reeleito em 2006, a Petrobras teria chegado ao pré-sal no momento em que chegou?

Essa pergunta é difícil de responder diretamente. Eu diria o seguinte: a Petrobras até 2003 estava sendo preparada para ser um conjunto de atividade com muita eficiência em vários ramos e com pouco ganho no sistema como um todo e estava sendo inibida no crescimento do seu portfólio de exploração. A partir de 2003, os investimentos aumentam, a Petrobras tem uma participação mais ativa nos leilões, redef! ine sua organização interna de forma a ter um fortalecimento das atividades corporativas no conjunto da companhia e acelera a renovação de seus quadros. Isso foi uma mudança de orientação política na Petrobras. Se seria possível atingir sucesso com a política anterior é difícil dizer. Agora, que o sucesso atual depende das mudanças feitas, é certo. Evidentemente que há muita sorte em encontrar petróleo. Mas apenas sorte não é suficiente.

Se os resultados das eleições tivessem sido outros, qual caminho a Petrobras teria tomado?

Só posso reafirmar que a Petrobras estava a caminho de se transformar em uma empresa muito eficiente separadamente e que perderia a capacidade de integração entre as diversas áreas da companhia. Teria investimento e crescimento menores do que teve. Provavelmente teria menos preocupação com o controle nacional, portanto teria menos impacto no estímulo da indústria brasileira. Teria focado suas atividades em setores diferentes. E o resultado disso ! é difícil especular. Seria uma empresa diferente do que é hoje.

O senhor acha que ela poderia ter sido privatizada, por exemplo?

Como um todo, acho difícil. Mas partes dela. Seria difícil uma privatização total da Petrobras, mas partes dela sim.

Pelo atual valor de mercado, de cerca de US$ 200 bilhões, a Petrobras é maior que muitos países da América do Sul Quais sãos os planos da empresa para investimentos internacionais, principalmente nos países vizinhos?

Dos US$ 174 bilhões em investimentos (até 2013), US$ 16 bilhões estão reservados para a área internacional A maior parte dessa quantia vai para os Estados Unidos. Nós temos nos Estados Unidos 270 blocos exploratórios no Golfo do México e uma refinaria. A nossa maior produção adicional internacional vem da Nigéria. Nosso investimento na América do Sul é em portfólio. Estamos crescendo na distribuição. Compramos redes de distribuição no Paraguai, Uruguai, Chile e Colômbia. Concentramos os investim! entos da Argentina na área de exploração. Estamos iniciando atividades exploratórias no Uruguai. Estamos em processo de avaliação de descobertas de gás no Peru. Atividades exploratórias na Colômbia.

A preocupação mundial com as mudanças climáticas não poderia inviabilizar o pesado investimento atual no pré-sal a longo prazo, tendo em vista que os países buscam combustíveis considerados limpos para substituir o petróleo?

Com um crescimento da demanda de apenas 1% ao ano em média até 2030, como preveem as pesquisas, haverá a necessidade de se adicionar entre 55 milhões e 65 milhões de barris por dia de produção. E isso praticamente para manter o consumo atual.

Mesmo considerando a entrada de combustíveis limpos?

Mesmo considerando isso. Por quê? Porque a economia vai crescer mais que um 1% em média. E todo esse crescimento adicional leva em conta os novos combustíveis. De onde vem essa necessidade de 55 milhões a 65 milhões de barris? Do declínio da produção! atual. Como há esse declínio, haverá a possibilidade de repor esse petróleo.

Não se corre o risco de o preço do petróleo cair muito lá na frente com sua possível substituição?

Não. A nossa visão é a de que o preço do petróleo vai cair sim, mas em termos relativos. Hoje o petróleo representa cerca de 33% da matriz energética mundial. Lá por 2030, a commodity representará 28%. E quem vai substituir? O carvão.

O carvão?

Sim, infelizmente o carvão. E consequentemente, em 2030, carvão, petróleo e gás natural vão continuar fornecendo 2/3 da matriz energética mundial.

No blog da Petrobras, o senhor reclama que os jornalistas perderam o interesse em perguntar sobre os biocombustíveis após o pré-sal…

(risos) Isso porque vamos investir US$ 2,8 bilhões em biocombustíveis até 2013. Nossa capacidade de biodiesel dobrou. Tínhamos três usinas, com produção de cerca de 300 milhões de metros cúbicos, o que dobrará já no próximo ano. Estamos entrando no et! anol, através de compra de participação em empresas

O Sr. poderia fazer um balanço da Petrobras nos sete anos de administração petista?

A Petrobras valia cerca de US$ 14 bilhões em 2003 e hoje vale cerca de US$ 210 bilhões. Hoje, temos um portfólio exploratório em crescimento. A Petrobras tem hoje 46% da sua força de trabalho com menos de nove anos de casa. Houve uma renovação da força de trabalho. A Petrobras fortaleceu a sua estrutura corporativa. Entrou fortemente na área de biocombustíveis. Montou e consolidou a estrutura de gás natural no País. Em 2002 investia US$ 200 milhões por ano em refino. Hoje esse valor é mensal. Comprou a Liquigás. É hoje a sexta maior empresa de energia do mundo e a segunda maior em petróleo, só perdendo para a Esso

Fique por dentro

Quem é Gabrielli

Formado em Economia pela Universidade Federal da Bahia, com pós-graduação na Universidade de Boston. Pelo Partido dos Trabalhadores (PT), foi candidato a deputado federal e! a governador, mas a militância começou antes da fundação do partido. Nos anos 1960, Gabrielli era membro da Ação Popular (AP), organização de esquerda que lutava contra o regime militar, e, por isso foi preso. Foi anistiado em 1979. Desde então, dedicou-se à vida acadêmica e hoje é professor licenciado da UFBA. A carreira só foi interrompida em 2003, quando, por indicação do governador da Bahia, Jaques Wagner, assumiu a diretoria financeira da Petrobras. Dois anos depois, foi guindado à presidência. Chegou a ser cogitado para ser o Ministro da Fazenda no segundo mandato de Lula. O presidente já declarou que se Dilma Rousseff for eleita, quer ser o titular da Petrobras, tendo Gabrielli como seu assessor.

Banner Revistas Mobile