Mercado

Valorização do álcool é sinal de oferta menos folgada que o previsto

Os altos preços do álcool anidro e hidratado verificados no mercado paulista alimentam dúvidas sobre as atuais estimativas do setor de produção recorde do combustível nesta safra, a 2004/05. Isso porque, segundo especialistas, a valorização reflete a escassez de produto no mercado, num cenário que já torna incerto o propalado equilíbrio de oferta até abril de 2005.

Ontem, os preços do álcool anidro (misturado à gasolina) bateram em R$ 0,94 o litro, 88% mais que em maio, início da nova safra, quando o produto era cotado a R$ 0,50. O tipo hidratado (usado como combustível) atingiu ontem R$ 0,90 (com ICMS de 12%), incremento de 70% na mesma comparação, conforme a NovaFox.

Segundo um analista, este panorama de oferta restrita acontece em um momento em que as usinas do Centro-Sul do país estão com suas moendas a todo vapor.

“Até agora, a safra 2004/05 tem um viés açucareiro”, afirma Júlio Maria Martins Borges, diretor da Job Economia e Planejamento. Até o fim de setembro, 65% da colheita de cana do Centro-Sul estava concluída. “As usinas têm volumes comprometidos com exportação de açúcar e de álcool”, diz ele.

As atuais estimativas de cana e de produção de álcool – um tanto desencontradas – colocam um ponto de interrogação de como poderá ser a trajetória de oferta do combustível até o final desta safra, em abril de 2005. Em sua última estimativa, a consultoria Datagro previu uma oferta de 15,4 bilhões de álcool, que, se confirmadas, será recorde, superior somente à safra 1997/98 (15,3 bilhões de litros). A produção de cana será de 326 milhões de toneladas para o Centro-Sul, 8,8% acima da safra 2003/04, e de 63 milhões de toneladas para a região Nordeste. As exportações deverão ser de até 2,5 bilhões de litros, ante os cerca de 2,2 bilhões estimados anteriormente.

Os números da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica) para o Centro-Sul oscilam entre 325 milhões a 330 milhões de toneladas de cana para esta safra.

Segundo Martins Borges, essas projeções podem ser frustradas pelo início das chuvas a partir de novembro. “Tradicionalmente chove a partir de novembro, o que pode atrapalhar o ritmo da colheita e moagem de cana”, diz.

O diretor da Job não acredita que haja desabastecimento de álcool, mas ressalta que a expectativa para a entressafra é de uma oferta “bastante ajustada” com uma demanda firme no período. As estimativas da Job são de uma oferta de 320 milhões de toneladas de cana para uma oferta de 12,9 bilhões de litros de álcool, os mesmos volumes da safra passada. As exportações de até 2,2 bilhões de litros.

Há dois anos, o setor passou por uma “saia justa” ao ser convocado pelo presidente Lula, janeiro de 2003, para explicar o porquê do desabastecimento de álcool durante a entressafra 2002/03.

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