Mercado

Vale pretende ser gigante na área de insumos agrícolas

Maior produtora de minério de ferro e uma das três maiores mineradoras do mundo, a brasileira Vale tem um ambicioso plano no setor de insumos agrícolas: tornar-se uma gigante mundial também em potássio e fósforo, duas matérias-primas intermediárias bastante utilizadas na indústria de fertilizantes. Para alcançar essa ambição, a multinacional verde-amarela pretende investir US$ 12 bilhões até 2014, tanto em projetos no Brasil quanto no exterior. Em paralelo, uma das ideias é reunir todos os ativos no segmento sob um único guarda-chuva e realizar a abertura da unidade de fertilizantes no mercado de capitais. O lançamento de ações, que também servirá para financiar parte dos investimentos previstos, poderá ocorrer no primeiro semestre de 2011, segundo o diretor-executivo da Vale Fertilizantes, Mário Barbosa.

Este é mais um lance da Vale no segmento. Neste ano, a empresa mostrou seu apetite, ao adquirir os ativos brasileiros de fertilizantes da Bunge Participações e Investimentos e participação majoritária na Fosfertil, maior produtora brasileira de nutrientes de fertilizantes. Os dois negócios custaram US$ 4,7 bilhões e posicionaram a empresa como uma das protagonistas do setor no Brasil, um dos mercados com maior potencial de crescimento no consumo de fertilizantes do mundo.

Feitas as aquisições, o foco de expansão da empresa passa pelo crescimento orgânico, de acordo com o diretor da empresa, Mário Barbosa. No início de 2009, a Vale acertou com a Rio Tinto a compra de depósitos de potássio por US$ 850 milhões, englobando projetos localizados na Argentina e no Canadá. O potássio ajuda no combate a pragas, melhora o valor nutricional dos alimentos e é bastante usado para aumentar a produtividade de culturas como milho e cana-de-açúcar, matéria-prima do etanol brasileiro, que consome por hectare quatro vezes mais potássio do que a soja.

Um dos projetos adquiridos está localizado na província de Mendoza, Argentina, e compreende o desenvolvimento de uma mina com capacidade nominal inicial de 2,4 milhões de toneladas métricas por ano de potássio, e potencial para futura expansão para 4,5 milhões de toneladas anuais. A previsão de início é para o segundo semestre de 2013, mas o projeto está sujeito à aprovação do conselho de administração da Vale. Localizado na margem oposta do Rio Colorado, na Província de Neuquén, na Argentina, outro projeto está em fase de estudo de pré-viabilidade, com produção estimada de 1 milhão de toneladas métricas por ano de potássio. Mais de US$ 4,5 bilhões podem ser investidos nos projetos, segundo analistas.

Em julho, iniciou-se a produção da mina de fosfatos de Bayóvar, no norte do Peru, operação que marca o iníci o do primeiro projeto greenfield da empresa no mercado de fosfatos. A mina, na qual foram investidos US$ 566 milhões, terá capacidade de produção de 3,9 milhões de toneladas anuais de rocha fosfática. Estuda-se a ampliação em 50% da produção da mina nos próximos anos, o que poderia consumir mais de US$ 300 milhões em recursos da empresa.

Em abril, a Vale recebeu a licença prévia do Projeto Carnalita, que será a maior planta de extração de potássio do país. Se os estudos de viabilidade econômica em curso forem aprovados, o projeto contará com uma unidade com capacidade inicial de produção em torno de 1,2 milhão de toneladas anuais de cloreto de potássio, que deverá começar a operar em 2014 e poderá consumir mais de US$ 1 bilhão em investimentos.

A entrada da Vale no setor de fertilizantes tem sido bem recebida pelo mercado. Em agosto, a empresa realizou uma visita guiada de analistas a Carajás, onde estão suas maiores reservas de minério de ferro, e a Sergipe, onde de tém uma mina de potássio. Em relatório, o analista do Santander, Felipe Reis, diz que os investimentos em fertilizantes fazem sentido porque a empresa possui ativos competitivos e pelos quais pode ter um grande papel nesse mercado.

Já o analista da Itaú Corretora, Marcus Assumpção, aponta que o lançamento de ações da unidade poderá destravar o valor da Vale, uma vez que seus ativos de fertilizantes não listados estariam subavaliados no preço da ação da mineradora, segundo sua análise. A corretora do Itaú estima que a nova empresa poderia valer em torno de US$ 40 bilhões, considerando todos os projetos em plena capacidade.

O ingresso da multinacional verde-amarela ocorre dentro de uma constatação cada vez maior na indústria de fertilizantes: escala e caixa serão dois ingredientes fundamentais na equação das empresas que prospectarão e explorarão as matérias-primas intermediárias. Um número pode dar essa dimensão: para produzir 1 milhão de toneladas por ano, os investimen tos podem variar entre US$ 1 bilhão a US$ 3,5 bilhões, dependendo se a iniciativa é relativa a nitrogênio, potássio ou fósforo. São projetos de longo tempo de maturação, que do desenho inicial até a obtenção de licença de operação podem demorar até dez anos para serem finalizados. Não é à toa que as duas rivais da Vale, a BHP e a Rio Tinto, também preveem ampliar sua capacidade de produção das matérias-primas intermediárias da indústria de fertilizantes.

Há três outros fatores que motivam os investimentos da Vale em fertilizantes: o consumo de alimentos e de biocombustíveis, duas áreas em que o Brasil é o mais competitivo e importante produtor mundial, deverá crescer com força nos próximos anos; a múlti brasileira é grande consumidora de energia e seus projetos na área de gás facilitam sua inserção no segmento, já que o combustível é uma das matérias-primas da indústria de fertilizantes. A logística de distribuição, com presença em todos os Estados do país, é o terceiro ingrediente que favorece a estratégia da empresa no setor.

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