Mercado

Usineiros pagaram por palestra de Palocci

O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, recebeu R$ 54 mil por duas palestras contratadas pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) em 2006. Na ocasião, sua empresa, a Projeto, estava em formação, e o ministro apresentou recibos de pessoa física, o RPA (Recibo de Pagamento a Autônomo).

Recém-saído do Ministério da Fazenda, Palocci foi contratado duas vezes para falar com um seleto grupo de empresários do setor sucroalcooleiro. Segundo a Unica, Palocci fez a primeira palestra em 28 de junho de 2006, recebendo R$27 mil. Com a dedução de impostos, recebeu pouco mais de R$15 mil. A segunda palestra foi ministrada em 2 de agosto do mesmo ano, pelo mesmo valor.

A Unica disse desconhecer a atividade de Palocci como consultor. Palocci também foi palestrante da VII Conferência Internacional da Datagro sobre Açúcar e Álcool, em 2007. O evento teve apoio da Unica, mas a entidade informou que não foi responsável pelo pagamento a Palocci.

No mercado de palestras, o valor pago a Palocci pela Unica é considerado baixo. Está na mesma faixa do que recebem palestrantes da área técnica de diversos assuntos, como médicos e mesmo jornalistas. Jogadores e ex-jogadores de futebol, por exemplo, recebem em média R$50 mil para falar em grandes eventos. Há informações de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso receba R$130 mil por 40 minutos de palestra e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre R$150 mil e R$200 mil.

Empresa de Palocci tem pelo menos 20 clientes

Segundo reportagem de ontem do “Estado de S. Paulo”, a empresa Projeto, que pertence ao ministro, tem uma carteira de pelo menos 20 clientes. Entre eles, está a empreiteira WTorre, que tem contratos com a estatal Petrobras e fez doações para campanhas eleitorais do petista — R$119 mil, em 2006 — e da presidente Dilma Rousseff — R$2 milhões, no ano passado.

A WTorre confirmou ontem que contratou a Projeto para “prestar consultoria em assuntos corporativos”, mas não informou os valores pagos e nem as datas dos contratos.

Em balanço de 2009 disponível em seu site, a WTorre informa que deve concluir em 2012 as obras do Centro Empresarial Senado, no Rio, que será alugado para a Petrobras para abrigar a nova sede da estatal. O contrato da WTorre com a Petrobras foi assinado em agosto de 2009 e o empreendimento terá financiamento de R$524 milhões.

No mesmo ano, a WTorre concluiu as obras do estaleiro Rio Grande, no Rio Grande do Sul, alugado para a Petrobras. A WTorre nega que esses negócios tenham relação com a Projeto. Em nota, a empresa informou que nunca participou de obras públicas e que apenas “aluga ou comercializa imóveis para empresas e grandes fundos de investidores”.

A Projeto começou suas atividades, de acordo com a Junta Comercial do estado de São Paulo, em 21 de julho de 2006, com formalização em agosto do mesmo ano. A firma foi aberta em sociedade com a mulher de Palocci, a médica Margareth Palocci, com um capital declarado de R$2 mil. Margareth foi substituída pelo jovem economista Lucas Martins Novaes. Em 2009, o capital da empresa foi alterado para R$52 mil e aumentou para R$102 mil no ano passado.

Apesar de mudar o objeto social da empresa, para atender às considerações da Comissão de Ética Pública em dezembro do ano passado, o ministro não atualizou o capital da empresa, que já é dona de pelo menos dois imóveis no valor total de R$7,4 milhões.

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