Mercado

Usinas enfrentam o desafio socioambiental

As usinas de açúcar e álcool estão tentando se livrar uma velha imagem no Brasil para ganhar mercado no exterior. Conhecidas pelas péssimas condições de trabalho dos cortadores de cana, as empresas também tem sido questionadas pelos riscos ambientais da produção de etanol. Segundo os especialistas, as empresas vão enfrentar questionamentos cada vez maiores. Ninguém vai querer comprar açúcar e álcool de regiões como as áreas devastadas da Amazônia Legal. A preocupação com a sustentabilidade deve estar presente desde o início dos empreendimentos, diz Roberto Paschoali, sócio da consultoria Evolve Gestão, que tem assessorado grupos interessados em investir no Brasil.

Segundo Paschoali, a falta de atenção às questões socioambientais pode se converter em barreiras não-tarifárias lá fora. O Brasil, como líder mundial na produção de álcool, está mais exposto. E as questões socioambientais são bastante cobradas pelos países ricos, diz.

Nas áreas em que a produção de açúcar e álcool já está consolidada, as empresas já começaram a se mexer. Há cerca de um ano, a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) firmou um convênio com o Instituto Ethos para disseminar os conceitos de responsabilidade socioambiental na gestão das empresas.

Cerca de 100 usinas assinaram o convênio, em que se comprometem a realizar avaliações internas, de acordo com os indicadores do Ethos. São Paulo tem excelência na produção de açúcar e álcool, e na área socioambiental também estamos bem posicionados. Mas ainda temos muito a fazer, diz Iza Barbosa, coordenadora de responsabilidade social da Unica.

De acordo com Roberto Figueiredo, coordenador do Grupo Rural Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que fiscaliza lavouras de cana no Estado, os trabalhadores das lavouras ainda enfrentam problemas como a terceirização irregular e a falta de equipamentos de proteção e transporte adequado. Mas há melhoras em pontos como aumento do registro em carteira e na questão do trabalho infantil.

Este ano, o MTE iniciou as fiscalizações já na etapa do plantio da cana. A cultura de cana está muito mais evoluída em termos sociais do que outras, como a laranja, diz Figueiredo.

Apesar dos avanços, os cortadores de cana ainda enfrentam condições duras de trabalho. Como são pagos de acordo com a produtividade de seu trabalho, acabam se submetendo a jornadas exaustivas. Um trabalhador recebe R$ 2,44 por tonelada de cana e empilhada. É preciso colher pelo menos 10 toneladas para receber um salário de pouco mais de R$ 400.

Segundo a Unica, o contrato por produtividade é legal e aceito por ambas as partes. Na área ambiental, as empresas procuram superar antigos problemas, como a queima da safra e os resíduos da produção. Segundo Leonardo Cintra, diretor técnico da Açúcar Guarani, de Olímpia (SP), essas atividades estão sendo controladas. Subprodutos da produção, como a vinhaça e torta de filtro, atualmente são usados como fertilizantes, diz ele.

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