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Uruguai adere ao álcool combustível

Foi um verdadeiro choque. Em 1950, quando a seleção uruguaia bateu o Brasil por 2 a 1 em pleno Maracanã, ninguém imaginava que o pequeno país sul-americano levantaria a taça Jules Rimet, sagrando-se campeão mundial.

A verdade é que o Uruguai nunca aceitou o papel de coadjuvante, mesmo encravado entre o Brasil e a Argentina, dois protagonistas no mercado agrícola internacional.

E lá vem o Uruguai surpreender de novo. Fortemente dependente do petróleo, o país colhe este ano sua primeira safra de cana para a produção de álcool combustível, sem qualquer ajuda do Brasil, seu parceiro no Mercosul com maior expertise no assunto. Ainda que os volumes de produção sejam baixos, cerca de 15 milhões de litros, o programa criado pelo governo uruguaio dá mostras de que está no caminho certo. Centenas de agricultores da região norte do país, que viviam de agricultura de subsistência, foram incluídos no projeto sucroalcooleiro do país.

Em entrevista ao Valor, Gerardo Gadea, vice-ministro de Indústria, Comércio e Energia do Uruguai, conta que o programa do álcool tem gerado novas oportunidades ao setor agrícola do país. E o maior impulso foi dado no ano passado, com a criação da lei número 18.195, garantindo “um marco jurídico claro que fomenta a produção de biocombustíveis”.

Pela lei, a mistura de álcool na gasolina no país está estipulado em 5% até dia 31 de dezembro de 2014; o biodiesel em 2%, como mínimo, entre 1º de janeiro de 2009 até 31 de dezembro de 2010, para mesclar com gasolina e diesel. Depois, passa para 5% até 2012.

As energias não-renováveis do Uruguai representam 64% do total da matriz energética do país, com base no consumo de petróleo e gás. As renováveis respondem pelos 36% restantes. Do total, 16,2% são o uso de biomassa, 16,8% são hidroelétricas e energia importada, e 3% gás natural.

“Não dispomos de reservas de combustíveis fósseis. A possibilidade de incorporar as energias renováveis, como eólica, biomassa e biocombustíveis, permitirá ao país reduzir sua dependência do petróleo, gerando novas oportunidades ao setor agrícola”, afirma Gadea.

Para colocar o programa em prática, a estatal petrolífera Ancap e a empresa, também estatal, de açúcar Alur, retomaram em 2005 o projeto sucroalcooleiro em Bella Unión, região norte do país. Em 2006, o país colheu sua primeira safra açucareira. Gadea lembra que esse setor encontrava-se totalmente desestruturado. A estatal já investiu cerca de US$ 36 milhões, que inclui uma destilaria, uma caldeira e um turbo gerador.

No ano passado, a Alur desenvolveu um plano de desenvolvimento e fez aportes de US$ 10 milhões para a instalação de uma caldeira em um engenho, substituindo equipamentos antigos. Essa caldeira é a maior do país e produzirá energia de 12 Megawatts a partir da queima do bagaço de cana. E possibilitará a venda de 10 MW de eletricidade para UTE, estatal de energia – a oferta mais barata de eletricidade gerada a partir da biomassa que a empresa já recebeu.

Se colocados no papel, os números viram traço, comparados oa Brasil, gigante em etanol. No Uruguai, a área plantada com cana saltou de 3 mil hectares em 2006, para 6,5 mil hectares em 2007. A previsão é que a Ancap comece a fazer a mistura de álcool na gasolina a partir do segundo semestre. A meta de curtíssimo prazo é atingir uma área de 10 mil hectares com cana para açúcar e álcool. Ainda é pouco. O Brasil ocupa 6 milhões de hectares de área com cana.

Para ter cana mais produtiva, a Ancap instalou uma área na zona de Belén, de 140 hectares, para pesquisar novas variedades. Outros 40 hectares foram destinados a 44 famílias de trabalhadores e produtores que não tinham acesso a terras. O governo estima que mais de 400 agricultores se vincularam ao projeto, incluindo assalariados rurais e pequenos produtores. Mas poderá ter a adesão total de 2.600 trabalhadores no campo e 950 na indústria.

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