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Um planeta melhor para todos

A cidade de São Paulo terá a honra de sediar, entre o dia de hoje e 3 de junho, o C40 Large Cities Climate Summit. Trata-se de um evento da maior importância, que reúne gestores de 40 cidades do mundo para apresentar e debater ações com o objetivo de minimizar as mudanças climáticas por que passa o planeta. Mais do que uma troca de experiências, um debate fundamental cujo objetivo é a busca contínua de estratégias conjuntas que assegurem qualidade de vida para a nossa e as futuras gerações do planeta.

A escolha da nossa cidade para sede desse evento tem para nós uma simbologia muito especial. São Paulo foi identificada, durante décadas, como a metrópole que não parava de crescer, gerando riquezas e oportunidades, mas que, por outro lado, impunha sacrifícios ambientais pesados a seus habitantes.

Desde o início da atual gestão, e ainda com José Serra como prefeito, em 2005, estabelecemos como meta transformar o processo de crescimento da cidade. Sem abrir mão da vocação para o desenvolvimento, foram adotadas medidas para reduzir os efeitos nocivos ao meio ambiente.

Essa diretriz de governo levou São Paulo, ainda em 2008, a ser a primeira cidade do Brasil a adotar o Programa de Inspeção Veicular Ambiental. Naquele ano, a implantação se deu primeiramente com os veículos movidos a diesel, o combustível mais poluente. Um ano depois, o programa foi ampliado para toda a frota de motos e parte dos automóveis. E desde o ano passado a inspeção é obrigatória para os veículos a diesel, motos e automóveis. Com o exemplo de São Paulo, a inspeção será estendida para todo o território nacional por decisão do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

Com grande satisfação, tomamos conhecimento da pesquisa Impacto em Saúde – Um Ano de Inspeção de Veículos Diesel no Município de São Paulo, realizada pela Faculdade de Medicina da USP. Segundo esse levantamento, que considerou apenas a frota a diesel inspecionada em 2010, reduziu-se em 7% a quantidade de material particulado no ar, o que corresponde à circulação de cerca de 20 mil caminhões. Um ganho ambiental que proporcionou a preservação de 252 vidas humanas, evitou 298 internações e significou a economia de US$ 34 milhões.

São Paulo também foi pioneira ao aprovar, em junho de 2009, da Lei Municipal de Mudanças Climáticas. Ferramenta essencial para a preservação do meio ambiente, essa lei foi fruto de um amplo debate entre a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, outros órgãos municipais e a sociedade civil. Enviada pela Prefeitura para a análise da Câmara Municipal no final de 2008, a Lei de Mudanças Climáticas estabeleceu metas ambiciosas, como a redução das emissões de poluentes e a redução progressiva, de 10% ao ano, do uso de combustíveis fósseis.

E já avançamos nesse sentido. Hoje, cerca de 10% do combustível consumi do pela frota de ônibus da capital é renovável, ou seja, não é fóssil. Usamos biodiesel, etanol e trólebus movidos a energia elétrica.

Entregamos, na semana passada, os primeiros dez ônibus movidos a etanol, de um total de 50 veículos que entrarão em operação ainda neste ano e poderão ser identificados pelo selo Ecofrota/Etanol. Paralelamente à inclusão do etanol, a SPTrans já realiza testes com ônibus movidos a diesel de cana-de-açúcar e reiniciará os testes com os ônibus híbridos, equipados com dois motores, um dos quais a diesel e outro, elétrico.

É importante lembrar que São Paulo já havia registrado importante avanço ao reduzir em 15% as emissões com o funcionamento das usinas de biogás nos Aterros São João e Bandeirantes. Esses dois aterros foram equipados com usinas termoelétricas que captam gás metano, responsável pelo efeito estufa. Juntas, produzem 370 MW/h por ano, energia suficiente para abastecer uma cidade com população equivalente a 600 mil famílias.

Além disso, as duas usinas geram créditos de carbono, que foram negociados em leilão internacional e renderam R$ 70 milhões ao erário. Recursos esses que estão sendo aplicados em projetos socioambientais nas regiões do entorno dos dois aterros, como forma de compensação pelo passivo ambiental causado no passado.

Em 2007 foram criadas a Operação Defesa das Águas e a Guarda Ambiental, que atuam na proteção do meio ambiente. Em quatro anos, 6,2 mil construções irregulares foram removidas porque estavam em áreas de interesse ambiental. Nesses locais foram instalados parques e equipamentos de uso público. E milhares de famílias foram transferidas para programas habitacionais em áreas urbanizadas.

Além de recuperar áreas irregularmente ocupadas durante anos, investimos na ampliação do número de parques públicos, que eram 33 até 2005 e agora são 77. Em outras palavras, em seis anos aumentamos o total de áreas verdes de São Paulo de 13 milhões para 25 milhões de metros quadr ados e poderemos chegar a 50 milhões até o fim de 2012, recuperando parte da permeabilidade do solo perdida ao longo de décadas.

O trabalho de São Paulo na busca de melhoria das condições ambientais possibilitou que a nossa cidade fosse escolhida, em 2009, no encontro de Seul, como a primeira cidade do Hemisfério Sul a sediar o encontro da Rede C40. Apresentaremos extensa e objetiva agenda para demonstrar o que de fato trouxe resultados positivos à comunidade. As demais cidades mostrarão, nas sessões plenárias e nos debates, suas experiências para combater o aquecimento global.

Desta reunião da Rede C40 poderemos todos tirar diversas lições de como fazer um mundo melhor, mas de forma real, com exemplos do que já deu certo em outras megacidades. A conferência de São Paulo será, sem dúvida, um evento decisivo em direção a cidades mais inteligentes e sustentáveis.

KASSAB É ENGENHEIRO, ECONOMISTA, É PREFEITO DA CIDADE DE SÃO PAULO

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