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Um anticlímax chamado Bush

Terminou a reunião da cúpula da Terra, a Rio + 10, em Johannesburgo, África do Sul, na qual foram discutidos o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável.

Mais importante do que as decisões ou não decisões desta reunião é o fato de que o mundo parou por uma semana para discutir alternativas de produção diferenciadas de modo a garantir uma adequação entre o meio ambiente e o desenvolvimento, o que passa pela mudança na matriz de energia e pelo combate às desigualdades sociais no planeta.

Ressalte-se que na Rio+10 o nosso País brilhou. A proposta mais comentada foi a brasileira, a “Iniciativa Brasileira de Energia”, e foram do Brasil e da Alemanha a iniciativa concreta de acordo para fabricação de 100 mil veículos a álcool no Brasil, gerando créditos de carbono a serem comercializados dentro dos princípios consagrados pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, do Protocolo de Kyoto.

Felizmente, o Brasil se encontra na mão certa da história. A proposta brasileira de que os países do mundo adotem 10% de fontes renováveis em suas matrizes de energia será mais cedo ou mais tarde implementada e cabe, desde já, buscar uma grande pressão internacional para que isso ocorra no mais breve tempo possível.

No entanto, chama a atenção a postura dos Estados Unidos, refratária a quaisquer avanços que permitam repensar um modo de produção, calcado no petróleo, e que dá mostras de fadiga irrecuperável. É a face tacanha de um capitalismo decadente que não consegue verificar as inúmeras oportunidades de negócio envolvidas na inevitável transformação da ordem econômica do mundo. Não é a toa que os EUA têm se deparado ultimamente com casos de corrupção típicos de países pobres e do terceiro mundo.

As imagens amareladas nas paredes alusivas a poços texanos de Petróleo impedem que George Bush, que não foi à Conferência e enviou Collin Powell para nada acrescentar, entenda a importância da diversificação da matriz de energia do planeta, por exemplo. É só imaginar quanto os Estados Unidos poderiam lucrar só com o desenvolvimento e transferência de tecnologia para se perceber que “a pátria-mãe” do capitalismo parou no tempo e agarra-se a um modo de produção que já está em processo de transição, fadado a ser superado nas próximas décadas.

Como coordenador da Frente Parlamentar pela Energia Limpa e Renovável da Assembléia Legislativa, só tenho a comemorar que estas questões ganhem as páginas dos jornais e mereçam a atenção de Chefes de Estado de todo o mundo. Isso porque, além das convicções pessoais, sou brasileiro e paulista, pronto, portanto, para comemorar nosso enorme potencial econômico ligado às questões ambientais. Apenas nas últimas semanas, aqui no Estado de São Paulo, acompanhei a entrega da certificação para comercializar crédito de carbono para as Usinas Moema, Santa Elisa e Alta Mogiana e participei da inauguração da unidade de cogeração de energia a partir do bagaço de cana da Usina Cerradinho. Isso para não falar da grande coqueluche que está virando o álcool combustível brasileiro, admirado e desejado pelo mundo todo e aos poucos redescoberto no Brasil.

De Johannesburg cabe ainda uma outra lição: a ONU tem limitações enquanto entidade capaz de reunir os países e elaborar uma proposta global conjunta a ser implementada. No próprio evento, o chanceler alemão anunciou a realização da Conferência da Cúpula sobre Estratégias Globais de Energias Renováveis. Articulações são necessárias e fundamentais para que propostas como a diversificação da matriz de energia do planeta sejam, aos poucos, implementadas, superando e atropelando, na prática, as resistências de Tio Sam.

Arnaldo Jardim é deputado estadual – e-mail: [email protected]

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