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Terceirização de mão-de-obra afeta imagem de usinas de SP

Empresas do setor perderam controle em relação ao tratamento dado aos trabalhadores. Decisão das usinas de açúcar e álcool de, há cerca de cinco anos, terceirizar a mão-de-obra ocupada nas lavouras de cana agravou as já precárias condições do trabalhador rural. Esse cenário, em que muitos cortadores de cana perderam as mínimas garantias trabalhistas, foi relatada ontem por Wether Annicchino, membro do Conselho Deliberativo e Fiscal da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), em entrevista concedida por representantes da entidade. Na ocasião, a Unica, que reúne 98 usinas paulistas, anunciou parceria com o Banco Mundial para a troca de experiências nas áreas de responsabilidade social corporativa e pela competitividade sustentável.

Annicchino explicou que, com a terceirização, as usinas acabaram perdendo o controle em relação ao tratamento dado aos trabalhadores. Para ele, o descomprimento da legislação trabalhista pelos fornecedores de mão-de-obra acabou se refletindo de forma negativa na imagem do setor. A consciência de que a terceirização não contribui para o desenvolvimento sustentável e que isso pode até comprometer o desenvolvimento das atividades, muitas usinas estão desistindo dessa prática e retomando a rotina de contratar diretamente os trabalhadores rurais.

O conselheiro da Unica adverte que não basta cumprir a legislação trabalhista. Para ele, é preciso preparar o trabalhador rural para a mecanização da colheita da cana, que deverá resultar na liberação de mão-de-obra e a conseqüente elevação da taxa de desemprego. São Paulo recebe um volume elevado de trabalhadores de outros estados, que chegam às cidades do interior paulista em busca de trabalho e renda. Cortadores de cana do Nordeste e de Minas procuram emprego na época da safra paulista. Essa demanda, segundo o conselheiro da Única, tem de ser atendida e cria um impasse, já que, pelo lado da responsabilidade social, impede o avanço da mecanização.

A demanda por trabalho nas lavouras de cana está sendo atendida pelo acelerado crescimento da produção de cana-de-açúcar no Estado. As usinas ampliam as áreas mecanizadas, mas também cresce a atividade, mantendo o nível de emprego no setor. A atividade sucro-alcooleira, segundo a Unica, emprega hoje 400 mil trabalhadores. Não há informações sobre a parcela dessa força de trabalho empregada nas lavouras de cana.

Para obter um retrato fiel da atividade e medir o estágio de desenvolvimento do setor do ponto de vista social, a Unica encomendou um trabalho que está sendo preparado por 23 acadêmicos da Unicamp e Universidade de São Paulo. Esse trabalho, deverá ser concluído com setembro permitirá avaliar o impacto social e econômico da atividade.

O convênio entre o Banco Mundial e a Unica prevê a realização de cursos em faculdades de Administração com o tema “Responsabilidade social Corporativa e Competitividade Sustentável”. O objetivo é disseminar entre os futuros profissionais conhecimentos sobre crescimento sustentável e responsabilidade corporativa.

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