Mercado

Tempo feio na Cargill

Há um tempo bom, a Cargill não enfrentava uma safra de problemas no País. No epicentro desse terremoto está o porto de Santarém, no Pará, inaugurado pela empresa em 2003. Com capacidade para embarcar 800mil toneladas por ano de soja, o terminal da Cargill é alvo de acusações do Ministério Público do Estado. A obra, que custou US$ 20 milhões, teria sido construída com base em sucessivas liminares e, portanto, estaria em situação juridicamente precária. Para pior, a organização não – governamental Greenpeace entrou em conflito direto com a empresa. A acusação é de que a unidade de Santarém da empresa estaria estimulando a abertura de novas áreas de lavoura e, conseqüentemente, derrubando partes da floresta nativa da região. Sobrou para Sergio Barroso, presidente da empresa no Brasil. Durante um evento promovido pelo Instituto Ethos em junho, sobre responsabilidade social e ambiental, o presidente da empresa Cargill defendeu a empresa dizendo que a oleaginosa estaria trazendo prosperidade á região amazônica, mas acabou sendo questionado por atividades no local. De acordo com Barroso, depois de o porto Ter sido construído, um promotor solicitou o estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ambiental.

“A Cargill tem todas as licenças para operar o porto de Santarém”, afirma Barroso. O fato é que Santarém, palco da disputa, está dividida. Os sojicultores, em sua maioria do Rio Grande do Sul e Paraná, querem produzir em terras degradadas que há tempos padecem de indefinição fundiária. Já as comunidades paraenses brigam para manter a floresta de pé para explorá –la atráves do extrativismo de frutas, óleos vegetais e manejo de madeira sustentável. No final duas contas, o terminal da Cargill virou um cenário da guerra. No dia 19 de junho, os ambientalistas do Greenpace invadiram o terminal da empresa para impedir o embarque de soja. Acabaram presos. Em defesa da multinacional, fazendeiros e produtores de soja apedrejaram a embarcação dos ativistas.

As más notícias do Pará somam – se a outra briga. A Mosaic, controlada pela Cargill, está batendo de frente com a parceira Bunge na administração da Fertifos, holding que controla a Fosfertil – maior indústria de fertilizantes do Brasil.

A briga começou no dia 27 de abril de 2006, durante a assembléia do conselho de administração da holding Fertifos.

Na reunião, os três representantes da Mosaic perderam assento para executivos da Bunge, maior acionista da holding, com 53,2 % do capital votante. A Mosaic afirma que houve quebra de acordo de acionistas, que garantia a participação de ambas as empresas. Por conta da decisão, a empresa controlada pela Cargill entrou na justiça com um pedido de anulação da assembléia e recondução de seus executivos ao conselho. A briga surpreendeu o mercado.

“Quando o negócio vai bem, ninguém briga”, comente Rafael Weber, analista do setor de fertilizantes da Geração Futura. É bom lembrar que a Bunge já anunciou o fechamento de algumas unidades de fertilizantes.

Essas nuvens carregadas nos corredores da multinacional ocorreram justamente em uma época que seria de festa. A Cargill acabou de adquirir o controle acionário da Central Energética Vale do Sapucaí (Cevasa), estreando finalmente no setor de açúcar e álcool no Brasil. A empresa comprou parte de Maurílio Biagi Filho, tradicional usineiro paulista, firmando uma joint – venture com a cooperativa de produtores, Canagril.

Com capacidade de moagem de 1,4 milhão de toneladas e produção de 125 milhões de litros de álcool, a Cevasa é uma das poucas usinas na região de Ribeirão Preto com capacidade de expansão industrial e agrícola.

Há tempos a multinacional americana ensaiava sua inevitável chegada na área produtiva do setor sucroalcooleiro. Isso porque a empresa já tinha uma relação indireta com o segmento através da logistíca. Em 2001, a Cargill formou uma joint – venture com a Crystalsev (da qual Biagi Filho é conselheiro) para construção de um terminal mecanizado a granel de açúcar, a Teag. “Tornar – se mais ativa é o passo lógico para expandirmos nossos negócios em açúcar e álcool e participarmos no crescimento desse promissor segmento”, disse o presidente da Cargill. Hoje, a multinacional é simplesmente a maior trading de açúcar no mundo. Nos EUA, ela também é uma das maiores na produção de etanol de milho: 450 milhões de litros por ano. Quem sabe o álcool brasileiro dê mais alegrias á Cargill do que grãos e fertilizantes têm proporcionado.

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