Mercado

Oferta à CAVR é "amigável"

Jornal Monitor Mercantil ( RJ ) – 01/02/07 – 17:52

Após divulgar intenção de adquirir a concorrente Companhia Açucareira Vale do Rosário (CAVR), a Cosan, líder no mercado sucroalcooleiro nacional, anunciou que a oferta é “amigável” e que todos os acionistas serão consultados. De acordo com o vice-presidente Financeiro e diretor de Relação com Investidores da Cosan, Paulo Diniz, a empresa recebeu uma proposta, há cerca de um ano, para adquirir participação minoritária na Vale do Rosário. No entanto, segundo o executivo, a Cosan não tinha interesse em assumir uma porção que não representaria o controle da concorrente.

“Dissemos que a CAVR seria um excelente ativo para a Cosan, mas que não estávamos preparados para assumir uma participação minoritária. Se esse grupo se transformasse em majoritário, dissemos que estaríamos mais que contentes em prosseguir com uma discussão de fusão e aquisição”, informou Diniz.

Assim, segundo o vice-presidente, o mesmo grupo voltou a procurá-los essa semana para voltar às negociações, dessa vez envolvendo o controle da companhia, já que detém 50% mais uma das ações totais da CAVR.

Diniz diz que tiveram “fortes indicações” de que o assunto havia vazado, e por isso comunicaram à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e à Bovespa através de fato relevante, que mantiveram a autorização da negociação das ações no mercado. Com a precondição de negociação com o grupo majoritário atendida, as conversas para uma fusão poderiam começar, continuou o executivo.

Ouvir acionistas

“Estamos apenas começando o processo. O preço final da oferta é a chave para se ter uma melhor idéia dos ativos que serão comprados e vendidos. Face à diversidade dos acionistas, o operação pode envolver não apenas dinheiro e ativos, mas até mesmo ações da Cosan ou um empréstimo poderiam ser incluídos”, ressaltou Diniz.

“Hoje os acionistas da CAVR conseguem ver uma oportunidade de criar um grupo líder no setor de açúcar, álcool e energia, perpetuando o Brasil como benchmark de energia natural e renovável”, disse o vice-presidente querendo mostrar que a oferta é “amigável”, acrescentou.

Ele garante que todos os acionistas da CAVR serão ouvidos. “Não queremos comprar apenas um parque industrial sem qualquer tipo de matéria-prima (terras e produção de cana-de-açúcar). Naturalmente que o fornecimento de cana seria uma das precondições do negócio, asseguradas por contratos de longo prazo, de 12 anos a 18 anos”, concluiu o vice-diretor da Cosan.

Oferta de ações

Embora não tenha declarado o valor da oferta, o vice-presidente Financeiro, adiantou que a Cosan pretende utilizar dinheiro ou troca de ações na compra da concorrente, caso a operação seja efetivada. Diniz disse que a empresa também cogita fortalecimento de sua estrutura de capitais, com eventual follow-up (nova oferta de ações). Ele não comentou, e nem foi questionado pelos investidores, sobre a possibilidade de emitir ADRs na Bolsa de Nova York.

Diniz acrescentou ainda que, alternativamente, o Grupo Cosan pode fazer empréstimo junto a acionistas estratégicos da companhia, desde que seja em condições favoráveis. Por fim, o executivo declarou que a empresa pretende seguir a estratégia de acessar o mercado, quer seja de equity, quer seja de dívida, outras vezes no futuro.

Se a operação for concretizada, a Cosan, que já é líder no setor, se distanciará ainda mais das outras colocadas no ramo de processadores de cana-de-açúcar do Brasil. Atualmente, o segundo lugar é alternado entre a Vale do Rosário e a São Martinho, que está em processo de abertura de capital.

A empresa também poderá se tornar a maior trading exportadora do país, somando suas operações com a participação na Crystalsev, empresa na qual a Vale do Rosário possui 35% de participação. A Crystalsev negocia a produção de cinco unidades processadoras do interior paulista, o que significa 26 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra.

Diniz explicou que, caso a compra da Vale do Rosário se concretize, Cosan e Crystalsev teriam participação de mais de 17% do setor no Brasil e ultrapassaria a Copersucar, cooperativa que centraliza a produção e a exportação de 29 usinas independentes.

Agências e corretoras divergem sobre oferta

Após o anúncio da potencial aquisição da Vale do Rosário, a agência de classificação de risco Standard & Poor”s reafirmou os ratings de crédito corporativo em moeda local e em moeda estrangeira atribuídos à Cosan em “BB”, com perspectiva estável.

Para Merrill Lynch, entretanto, a estratégia de consolidação da Cosan já está incorporada ao seu modelo de avaliação que prevê a duplicação de seu tamanho nos próximos seis anos, por meio de operações de compra.

A aquisição da Vale do Rosário, que produziu 10,8 milhões de toneladas em 2006, é acima da previsão de 7,5 milhões de toneladas, estimada da Merrill Lynch para 2007. O preço de aquisição, noticiado pela mídia, seria de US$ 68 por tonelada, o que totalizaria US$ 750 milhões. Esse valor seria 36% maior que o previsto nos cálculos da Merrill Lynch. O valor oficial, entretanto, não foi divulgado pela companhia.

Assim, na avaliação da Merrill Lynch, as ações da Cosan têm recomendação de “venda”, tendo em vista ainda que ela negocia com um múltiplo (indicador financeiro que mede o potencial de valorização da empresa) acima dos de seus pares.

Também a Fator Corretora acredita que o interesse da Cosan de comprar a concorrente está em linha com a estratégia de adquirir competidores, já anunciada anteriormente. A corretora, entretanto, vê de forma positiva a notícia, já que ela consolidaria a liderança da Cosan na capacidade de moagem de cana-de-açúcar. Se a transação for concluída, a capacidade total de esmagamento de cana-de-açúcar da Cosan será de aproximadamente 50 milhões de toneladas. Com isso, a participação de mercado da companhia, nesse ramo, passaria de aproximadamente 10% para 12,5% – bem acima da capacidade da segunda maior usina, a São Martinho, com cerca de 3% de participação.

A Fator coloca os papéis da Cosan como “atraentes”, a um preço alvo de R$ 47,34.

O potencial de valorização é de 16,31% sobre o fechamento de ontem, a R$ 40,70. Na bolsa, as ações Cosan ON cediam 1,13% a R$ 40,24. Os riscos para a operação são, segundo a Fator, a dificuldade de aprovação pelos acionistas da Vale do Rosário, dado o elevado número deles (acima de 100), o preço a ser oferecido pelas ações (estimativa de preço superior a US$ 50 por tonelada de cana-de-açúcar moído), e a duração da operação.

http://www.monitormercantil.com.br/mostra_noticia.asp?id2=39452&cat2=financeiro

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