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MST abre congresso com advertência ao agronegócio e ao etanol

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) iniciou nesta segunda-feira, em Brasília, o maior congresso da entidade desde que foi criada há 23 anos. O foco das insatisfações é o avanço do agronegócio, visto como inimigo da reforma agrária que é a principal bandeira do movimento.

Em sua quinta edição, a instância máxima do movimento deve reunir entre 17 e 20 mil assentados e acampados até sexta-feira, conforme previsão dos organizadores. No primeiro evento do gênero, em 1985, 1.500 sem-terra estavam presentes.

“Mesmo neste governo do povo, os grandes latifundiários estão ganhando poder, desalojando camponeses e pequenos agricultores”, disse Eliazar da Silva, membro do MST paranaense que já chegou a Brasília.

“Há descontentamento nas bases e fala-se em ampliar o confronto”, disse Silva.

No congresso, o debate será em torno dos principais adversários do movimento: o agronegócio e a monocultura da cana-de-açúcar, voltada à produção de etanol. O MST condena o incentivo à produção de biocombustíveis, uma das principais bandeiras do governo Lula, por entender que essa produção reduz a possibilidade do cultivo de alimentos.

“Há disputa com o agronegócio, que avança no campo. As empresas transnacionais estão se apoderando das nossas terras, o que leva à perda de soberania”, disse Marina dos Santos, integrante da coordenação nacional do MST.

Para o movimento, trata-se de uma disputa de projeto: enquanto o agronegócio tem apoio governamental e recursos financeiros, a reforma agrária ainda não conquistou a sociedade brasileira.

“Nosso inimigo número 1 é o capital estrangeiro, nosso inimigo número 2 são os grandes latifundiários. Eles estão juntando forças no negócio dos biocombustíveis e isso significa que são um alvo”, disse Vanderlei Martini, outro membro da coordenação nacional do MST.

Com o objetivo de atrair adeptos à sua bandeira, o MST também vai debater nesta semana formas de comunicação com a sociedade para que as imagens das ocupações de terra não sejam as únicas a chegar ao grande público.

TENDAS

No mar de tendas armadas no estacionamento do estádio Mané Garrincha, é unânime a revolta contra os grandes empresários rurais.

“Se o campo se unir, a cidade e a burguesia não vão resistir”, diz um cartaz numa barraca de sem-terras.

Esta reunião de jovens e velhos é uma mistura de acampamento de refugiados com festival de rock. Ambulantes vendem de tudo -“Viagra natural”, sutiãs de poliéster e espetinhos de frango. Num bar improvisado sob uma árvore, a cachaça ajuda a digerir a poeira vermelha levantada por ônibus que chegam de todo o país.

Delegados de alguns Estados mais pobres se amontoam em colchonetes de espuma sob tendas redondas, como as de circo. Num canto, caldeirões cozinham arroz e feijão em quantidade industrial.

LULA

O movimento considera ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em dívida com os sem-terra, mas não defende o rompimento com o governo do PT. Integrantes do MST fizeram campanha aberta pela reeleição de Lula no ano passado.

“Lula está em falta não só com o MST, mas com toda a sociedade. Havia um discurso de resolver questões sociais, mas não é o que acontece”, disse a coordenadora do MST.

Ela afirma que o presidente, aliado histórico do MST, não está sendo fiel às promessas. “Não estamos arrependidos porque com Alckmin seria um atraso maior ainda para a classe trabalhadora, um retrocesso maior que Lula”, acredita Marina. Geraldo Alckmin (PSDB) saiu derrotado das eleições presidenciais do ano passado.

Dados do MST indicam que há 350 mil famílias assentadas e outras 150 mil acampadas em terras reivindicadas pelo movimento, num total de 2 milhões de pessoas, organizadas em 23 Estados e no Distrito Federal (ficam de fora Acre, Amazonas e Amapá).

No primeiro mandato, o governo Lula afirma ter assentado 381,4 mil famílias, número que é contestado pelos sem-terra.

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