Mercado

Moody's alerta para pressão no caixa de usinas

Em recente relatório, a agência de classificação de risco Moody’s prevê que, apesar dos preços ainda elevados de açúcar e etanol, as empresas do setor podem sofrer pressão em sua geração de caixa, na medida em que, neste momento, investem montantes significativos para recuperar capacidade produtiva. Estimativas de mercado indicam que mais de R$ 5 bilhões estão sendo aplicados somente na recuperação da oferta de cana no país.

“As empresas precisarão de eficiência operacional e financeira para fazer frente à volatilidade desse mercado, que vai continuar”, disse a analista da Moody’s Marianna Waltz. No documento, a agência alerta que algumas companhias nessa indústria têm um “colchão de liquidez pequeno” o que, combinado com a necessidade de investimento e com a inerente volatilidade do açúcar e do etanol, pode se traduzir em restrições relevantes na classificação dos riscos de crédito desses grupos.

A Moody’s classifica o risco de quatro grupos sucroalcooleiros com atuação no Brasil. Dois têm capital aberto na BM&FBovespa, a Tereos Internacional, que controla a Guarani, e a Cosan, que junto com a anglo-holandesa Shell, detém os ativos da Raízen, a maior produtora de açúcar e etanol do país. Os outros dois grupos são de médio porte, o grupo Virgolino de Oliveira, com quatro usinas em São Paulo (associada da Copersucar) e o Grupo Farias, com capacidade industrial para moer 10,6 milhões de toneladas de cana.

Refletindo a temperatura de uma boa parte do setor sucroalcooleiro, a Virgolino de Oliveira e o Grupo Farias tiveram no último trimestre de 2011 aperto no caixa que, no caso da Virgolino, foi sanado com emissão de dívida externa.

Ao fim do último trimestre de 2011, a Virgolino tinha em caixa, segundo a Moody’s, R$ 128 milhões, o suficiente para cobrir 23% de suas dívidas de curto prazo, na época, em R$ 567 milhões – incluindo R$ 262,1 milhões com a Copersucar. Em janeiro de 2012, a empresa conseguiu emitir bonds de US$ 300 milhões por dez anos a uma taxa anual de 11,75%, o que a Moody’s espera ser fundamental para a melhora do perfil de débito da empresa e de seu caixa.

O diretor-financeiro da Virgolino, Carlos Otto Laure, diz que a captação vai permitir à empresa aplicar o equivalente a US$ 70 milhões em ampliação e renovação de mais de 30 mil hectares de canaviais, além de melhorar a liquidez. A operação de janeiro foi a segunda captação feita pela empresa no exterior – em janeiro de 2011 a Virgolino emitiu outros US$ 300 milhões em bonds.

O Grupo Farias também tentou, sem sucesso, emitir dívida no exterior. A operação foi postergada, mas, segundo a Moody’s, dela depende a melhora da liquidez do grupo que pretendia emitir US$ 300 milhões em bonds. No último trimestre de 2011, a empresa tinha no caixa R$ 11,5 milhões e uma dívida de curto prazo de R$ 240,7 milhões, segundo a Moody’s. A agência previa que, se conseguisse captar, a empresa reduziria débitos de curto prazo para R$ 54 milhões e eles representariam não mais do que 10% do total da dívida, ante os 40% atuais. Procurado, o grupo não retornou as ligações.

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