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Setor sucroalcooleiro cresce e acerta venda de energia excedente

Especialidade e pioneirismo do Brasil, a cultura da cana ganhou espaços e, atualmente, atrai investidores nacionais e internacionais. O País é o maior produtor mundial, seguido pela Índia e Austrália. E em Mato Grosso do Sul o setor avançou tanto que, de simples produtor de cana-de-açúcar e depois de açúcar e álcool, o Estado hoje já está vendendo energia para a Petrobras, produzida pelas indústrias de processamento da cana para fabricação de açúcar e álcool. Três contratos nesse sentido já foram assinados pelas indústrias de Sonora, Sidrolândia e Brasilândia.

O processo de fabricação de energia é simples, sendo na verdade um dos resultados da mistura de muito vapor e calor que, juntos, formam parte importante no processo de produção do açúcar e do álcool. Mas ao contrário do que pensa a maioria, o processo não pára por aí. Ele pode ser bem mais longo e também mais rentável do que se imagina.

Foi exatamente pensando nessa maior rentabilidade e nos fatores muito favoráveis que Mato Grosso do Sul apresenta – o clima favorável e grande disponibilidade de área – que há mais de um ano o Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Produção e do Turismo (Seprotur), criou a Câmara Setorial do Setor Sucroalcooleiro que, com outros parceiros, vem desenvolvendo um trabalho de ponta no Estado.

E os atuais números do setor no Estado são muito positivos. Quanto à geração de empregos, somando os diretos e os indiretos, são aproximadamente 55 mil. Nas previsões para a safra 2003/2004, a tendência também é de crescimento da área cultivada em 126,5 mil hectares. Na produção de cana, açúcar e álcool a estimativa é, respectivamente, de 9,5 milhões de toneladas, 461,2 mil toneladas e 480 milhões de litros para este ano.

Luz que vem da cana

O processo é simples: ao se queimar o bagaço da cana nas caldeiras, obtém-se vapor para mover as turbinas que garantem auto-suficiência de energia elétrica para as usinas e ainda geram um excedente. E é este que é vendido para as distribuidoras de energia.

Toda essa “ebulição” de energia começou por volta de 1900. Embora poucos saibam, as indústrias canavieiras sempre produziram energia elétrica, mas para o próprio consumo. Curiosamente, na década de 80, a Usina de Sonora chegou a abastecer a cidade de Sonora, que naquela época era apenas um distrito, com o excedente que produzia.

Conforme o superintendente agrícola da Usina, Cleiton Tarbas Valeis, “a usina fornecia cerca de 500 kVA de energia a um preço simbólico. O acordo se prolongou por aproximadamente quatro anos, quando então foi instalada a termoelétrica – que manteve a cidade até meados de 1992 – e finalmente substituída pelas linhas de energia vindas da região norte, mais precisamente do Estado de Mato Grosso”, lembra. Hoje, segundo Cleiton, todo esse excedente é revertido para o sistema de irrigação da usina que abrange 13 mil hectares da plantação de cana.

Atualmente, com o sistema elétrico regulamentado, surgiu o Projeto Produtor Independente de Energia (PIE). Foi então, visando a uma maior margem de lucro, que essas mesmas indústrias, além de continuarem a produzir para o próprio consumo começaram a investir na produção de excedente para comercializar, já que isso agora é regulamentado.

Segundo o coordenador da Câmara e diretor do Sindicato das Indústrias de Álcool de Mato Grosso do Sul (Sindalcool), Isaias Bernardini, “os primeiros contratos para venda do excedente de produção para a Eletrobrás já foram assinados. São, no total, três contratos que garantem o fornecimento à empresa estatal de 48 MW/hora de energia elétrica pelo prazo de 20 anos. As fornecedoras são as usinas de Sonora, Sidrolândia e Brasilândia. O programa deverá entrar em operação a partir de 2006”. Ainda segundo Bernardini, novas licitações estão abertas. As empresas interessadas poderão se habilitar até outubro.

Mas para atender tamanha demanda não é tão simples assim. “O investimento chega a R$ 1,5 milhão por KW produzido, o que significa que para esses 48 KW serão investidos R$ 72 milhões”, explica Bernardini. Dado o primeiro passo, agora é a hora de calcular o retorno: pagando-se R$ 97,00 por MW entregue basta multiplicar por 48. “Se colocarmos na ponta do lápis, a conta é simples: R$ 4.656 por hora, R$ 111,7 mil por dia. Como a produção ocorre apenas durante seis meses do ano – período do plantio à colheita – a cada safra soma-se um total de R$ 20,3 milhões. No final do contrato, o faturamento é de nada mais nada menos que R$ 406 milhões”, calcula Isaias Bernardini.

Tendo em vista um grande número de interessados, o assunto foi pauta de um seminário no auditório do Idaterra no último dia nove de junho promovido pela Agepan. Na oportunidade, foram feitas apresentações pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Sindalcool e também o Ministério de Minas e Energia, que expôs o Programa de Inserção de Energia Renovável, que está sendo implantado pelas usinas do Estado, podendo abastecer até 20% da energia gasta em MS e gerar até 2006, no Brasil, 3,3 mil MW/hora. Em tempos de lançamento do Plano de Safra 2004/5, tendo sido reservado ao Mato Grosso do Sul R$ 1,4 bilhão em crédito, o teto para financiamento das lavouras de cana-de-açúcar aumentou em 66%.

Segundo informações do Banco do Brasil, a verba subiu de R$ 60 mil por tomador para R$ 100 mil. “Isso sem contar que a própria Eletrobrás tem uma linha específica de financiamento para a geração de energia através do BNDES, sendo que o investimento total em nível de Brasil deverá atingir R$ 8,6 bilhões. Então, opções não faltam”, argumenta o secretário-executivo da Câmara Setorial, Eduardo Cruzetta.

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