Mercado

Sem oferta, usinas terão que renegociar entregas de açúcar

O mau tempo nas regiões canavieiras e a consequente dificuldade das usinas em produzir açúcar (em volume e em qualidade) deflagraram um movimento de renegociação de contratos que não conseguirão ser cumpridos com a entrega física do produto. Estima-se que essa recompra de papéis tenha começado em outubro e alcance um volume entre 600 mil e 1 milhão de toneladas de açúcar, o equivalente a 5% das exportações brasileiras do produto. Com isso, a remuneração referente ao açúcar desses lotes deverá diminuir.

O problema, segundo Arnaldo Luiz Correa, da Archer Consulting, é que o mercado está “invertido” – ou seja, os contratos de curto prazo estão remunerando mais do que os mais longos, o que significa dizer que o vendedor (usina/trading) vai abrir mão de uma venda a preços maiores para assumir um contrato para entrega mais à frente a um valor menor. É difícil estimar o valo! r fechado nesses contratos que foram e estão sendo renegociados, segundo Vitor Piuma, da Planner Corretora. Mas, se os valores atuais dos papéis com vencimento mais curto e mais longo forem usados como referência, a diferença é próxima de 10%. Ontem, por exemplo, o contrato da commodity com vencimento em março de 2010 na bolsa de Nova York fechou em 22,22 centavos de dólar a libra-peso, 9,3% mais valorizado que os papéis para outubro.

De acordo com informações divulgadas ontem pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), por conta do excesso de chuvas deixaram de ser produzidos entre 2 milhões e 2,5 milhões de toneladas de açúcar no Centro-Sul do país. “As regiões canavieiras do Estado de São Paulo receberam, entre julho e setembro, em torno de 300 milímetros de chuva por mês, enquanto a média mensal para o período é de 100 mm”, acrescenta Antônio de Pádua Rodrigues, diretor-técnico da Única.

Com isso, além de quebra na produção de açúcar, as usinas da regi! ão também deixaram de fabricar até 1º de dezembro cerca de 2 bilhões de litros de etanol. Neste cenário, a Única prevê que a receita das usinas nesta safra vai encolher em R$ 2,5 bilhões por causa da cana-de-açúcar que não foi moída. Assim, a Unica estima que o volume de matéria-prima em pé será entre 40 milhões e 50 milhões de toneladas, que dever ser processada no ciclo 2010/11. Para se ter uma ideia dessa dimensão, o volume é próximo do que deve realizar a Cosan, maior grupo sucroalcooleiro do país, que prevê moer 56 milhões de toneladas na atual safra.

A menor oferta de açúcar também deu sinal forte ontem para o mercado interno. Piuma, da Planner, reporta que os negócios de venda do produto não estão sendo mais fechados no patamar de R$ 52 a saca. Os vendedores estão testando um outro limite e ofertam a saca (50 quilos) entre R$ 56 e R$ 57 (pagamento à vista, na usina no estado de São Paulo). “As usinas estão paran! do de moer e saindo do mercado em busca de preços melhores. Já teve oferta de R$ 60, valor que, por enquanto, está sem comprador”, afirma Piuma.

Com a frustração da moagem do atual ciclo, a tendência é que o setor volte a moer cana mais cedo. Segundo a Única, a partir da 2ª quinzena de março de 2010 em torno de 140 usinas deverão estar processando cana da temporada 2010/11, número que ficou restrito a 45 unidades em igual período deste ano.

Em coletiva à imprensa, a Unica revisou ontem a estimativa de moagem para o Centro-Sul com 538,1 milhões de toneladas de cana, ante as 529 milhões do levantamento anterior. A produção de açúcar, segundo a entidade, será de 29 milhões de toneladas, e a de etanol, de 23,3 bilhões de litros. Na segunda-feira, a AgraFNP divulgou sua estimativa de produção de etanol de 25 bilhões de litros. O volume se refere à produção nacional do produto e não do Centro-Sul, como informou o Valor.

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