Mercado

Safra estagnada

Tranin: preço alto do açúcar incentiva outros países a produzirem o adoçante
Tranin: preço alto do açúcar incentiva outros países a produzirem o adoçante

Por Miguel Rubens Tranin

A safra 2015/16 de cana de açúcar no Paraná começou em ritmo acelerado, beneficiada pelo clima favorável, com chuvas normais durante o período de desenvolvimento da lavoura, que estimulou o crescimento, e clima mais seco no início da colheita, facilitando a maturação e as operações no campo.

Mas apesar do ritmo acelerado inicial, isso não significará produção maior. O total esperado para a safra deste ano, 43,08 milhões de toneladas, é bastante semelhante ao colhido no ano passado, quando a safra paranaense fechou com 43,099 milhões de toneladas de cana, um resultado próximo ao da safra anterior.

A estagnação na produção reflete o momento econômico pelo qual passa o setor e a economia do País como um todo. A crise financeira mundial entre 2008 e 2009, em pleno período de expansão e fortes investimentos do setor para atender a projeção de demanda por seus produtos, foi potencializada pelas adversidades climáticas que se seguiram, o abandono do setor, o congelamento do preço da gasolina por vários anos e a sequência de anos com baixos preços do açúcar no mercado internacional, situação que levou à lona os produtores. Recentemente, a retração na economia mundial e a violenta queda no preço do petróleo agravam ainda mais o cenário.

E o resultado disso foi redução no volume total de açúcar fabricado, fechando a safra passada em 2,923 milhões de toneladas de açúcar, volume bem menor que os 3,096 milhões de toneladas de açúcar que já se produziu em 2012/13. Para este ano a previsão é de produzir 3,058 milhões. No contraponto, as últimas medidas tomadas pelo governo estimularam uma safra mais alcooleira, onde foram produzidos 1,612 bilhão de litros de etanol total, sendo o crescimento maior na produção de etanol anidro. Nesta safra, esse volume deve ser um pouco menor, 1,526 bilhão de litros.

Dentre as importantes conquistas do setor podemos ressaltar a redução do PIS/Cofins incidentes sobre o etanol e o estabelecimento de um cronograma para a volta da Cide (Contribuição sobre Intervenção do Domínio Econômico) sobre os combustíveis fósseis, fator fundamental para a diferenciação dos combustíveis renováveis. Também a inclusão no Programa Inovar-Auto, benefícios adicionais às montadoras que desenvolverem veículos mais eficientes, com o uso do etanol hidratado, a fim de aumentar a relação econômica entre os preços do etanol e da gasolina para níveis acima dos atuais 70%.

Outra reivindicação do setor atendida é a elevação para 27% da mistura de etanol anidro na gasolina C e a restituição de 3% dos impostos cobrados sobre exportações de açúcar e etanol, dentro do Reintegra. Só isso, entretanto, não basta para reverter a grave situação em que se encontra o setor sucroenergético. Há outras medidas emergenciais a serem adotadas, sem contar a determinação da matriz energética que o País deseja, com a elaboração de uma política de longo prazo.

É preciso transformar o Prorenova e o financiamento de estoques (warrantagem) em programas permanentes de governo. Todos os anos, é necessário que o produtor renove pelo menos 20% do canavial para manutenção de seus níveis de produtividade. Além disso, como a produção é sazonal (produz em sete meses e comercializa em 12), é fundamental oferecer uma linha de financiamento para estocagem.

Outro ponto determinante para que as usinas possam voltar a produzir e crescer, devido ao grande endividamento do setor, é o estabelecimento de um programa de renegociação de dívidas, a exemplo do Pesa (Programa Especial de Saneamento de Ativos), que alongou as dívidas do agronegócio no final da década de 1990. Medida necessária, pois o efeito seria imediato, permitindo o acesso ao crédito por muitas empresas, hoje impossibilitadas por uma série de restrições.

É preciso ainda desenvolver um programa de incentivo a bioeletricidade, energia elétrica produzida a partir do bagaço e da palha de cana, com a realização de leilões por fontes e regionais, além de incentivar, no Brasil, a pesquisa para criação de veículos totalmente verdes, como o híbrido a etanol. Este sim seria o veículo ideal do ponto de vista ecológico.

Como o desenvolvimento tecnológico é base para qualquer crescimento, é imprescindível o apoio a Embrapa, não só na pesquisa e geração de novas variedades, mas em trabalhos que gerem soluções para os problemas criados com a forte mecanização da produção agrícola e a não queima da palha da cana, que trouxeram fortes reflexos sobre a produtividade dos canaviais.

Mas, mesmo diante de uma safra com prognósticos não são tão favoráveis, a esperança é sempre uma característica que distingue e impulsiona o produtor rural em nosso País. Essa é a energia que move o Brasil e nos leva a continuar, mesmo com o setor sucroenergético enfrentando uma das piores crises de sua história. É energia sempre renovável.

(*) Miguel Rubens Tranin, presidente da Associação dos Produtores de Bioenergia do Paraná (Alcopar) e dos Sindicatos das Indústrias de Fabricação de Açúcar, Álcool e Biodiesel do Paraná (Siapar, Sialpar e Sibiopar), é engenheiro agrônomo e pós-graduado em Comercialização de Commodities.

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