Mercado

Rússia quer trocar apoio à OMC por cota maior

A Rússia pressiona o Brasil para obter, na semana que vem, a assinatura do protocolo de apoio a sua adesão à Organização Mundial de Comércio (OMC), durante a visita do presidente Vladimir Putin a Brasília.

Só que, além de resistir a pagar o preço por esse apoio, Moscou faz ameaça velada – ou promessa, dependendo da avaliação. Sinaliza que o que for decidido agora vai “esboçar” o futuro das relações bilaterais e do próprio apoio da Rússia ao Brasil quando esta estiver dentro da OMC.

Nas negociações bilaterais que prosseguem em Genebra, Moscou limitou-se até agora a fazer promessas “técnicas” envolvendo carnes e açúcar, além de ligeiro corte na tarifa de importação de óleos vegetais.

“O Brasil pode esperar não ser discriminado em relação a outros fornecedores”, disse o vice-ministro russo de desenvolvimento, Maxim Medvedkov. “O que oferecemos é com base nas regras da OMC, embora tecnicamente diferente sobre parâmetros para as exportações. Estamos esperando a resposta dos brasileiros”.

O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Márcio Fortes, declarou-se “otimista” em partir hoje de Genebra com um entendimento para “expandir” as exportações brasileiras de carnes para o mercado russo em 2005. Com isso, Brasília poderia reafirmar o apoio para a entrada russa na OMC, semana que vem.

Mas, após duas horas de negociações na OMC, ontem cedo, o vice-ministro russo sinalizou que Moscou não se contenta com mera manifestação retórica.

“Apoiar a Rússia é a assinatura do protocolo bilateral e temos uma ótima oportunidade de fazer isso na semana que vem em Brasília”, disse Maxim Medvedkov ao Valor.

Para o vice-ministro, a assinatura imediata do protocolo demonstraria “que estamos sendo sérios” no estabelecimento de relações econômicas bilaterais de longo prazo. Para os russos, o que está em jogo são “posições comuns no futuro”, inclusive na agricultura.

“A curto prazo, o Brasil tem interesse em mais mercado para suas carnes e a Rússia, em entrar na OMC”, diz uma autoridade russa.

“Mas devemos ver as perspectivas de longo prazo. Se forçarem a Rússia a cortar mais tarifas, dar mais acesso a seu mercado, pode haver enormes reações protecionistas internas, porque não dá para lutar contra subsídios americanos e europeus”.

A questão é saber o quanto vale uma promessa ou uma ameaça russa. A realidade mostra ser difícil uma aliança Rússia-Brasil em negociações agrícolas na OMC, por exemplo, tal é a diferença de competitividade entre os dois países.

A agricultura russa está saindo do modelo coletivista para o de economia de mercado, não tem produtividade e precisa de muito subsídio. É importador líquido de alimentos e sua posição tende a ser defensiva. É o contrário do engajamento brasileiro pela abertura máxima dos mercados agrícolas internacionais.

Para exportadores, o sentido do ingresso da Rússia na OMC é aumentar a previsibilidade no fluxo de comércio para aquele mercado.

Mas os russos continuam resistindo a oferecer esse tipo de transparência, irritando americanos, canadenses, australianos, brasileiros e outros parceiros.

Para o Brasil, a negociação bilateral é ainda mais importante para descobrir o que poderá obter após o período de transição de cinco anos, que ocorre depois que um país entra na OMC.

Por exemplo, no caso das carnes: Moscou fez enormes concessões aos Estados Unidos e à União Européia, deixando migalhas para os outros. Para o Brasil, qualquer cota é inferior as condições de competitividade agrícola brasileira.

Banner Revistas Mobile