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Ruínas resgatam poder e queda dos barões do açúcar

De relevo acidentado, São Francisco do Conde tem vários mirantes naturais, de onde o litoral exuberante e as ilhas podem ser apreciados. Na Vila de Monte Recôncavo, no pátio da Igreja de Nossa Senhora do Monte, a vista da Baía de Todos os Santos é deslumbrante com a Ilha das Fontes em primeiro plano. No Alto do Cajá, vê-se o ponto em que os Rios Subaé e Sergimirim encontram o mar. No lado oposto da cidade, o distrito de Santo Estevão oferece visual semelhante a uma pintura naturalista: o minúsculo corredor de mar que separa as Ilhas do Pati e das Fontes.

São Francisco do Conde fazia parte da sesmaria de Fernão Castelo Branco, que na segunda metade do século 16 doou as terras para Francisco de Sá, filho de Mem de Sá. Em 1563, o governador construiu o engenho de cana-de-açúcar Real de Sergipe, conhecido depois como Engenho de Sergipe do Conde por conta do casamento de Felipa de Sá com o Conde de Linhares.

Os ricos solos de massapé da região fizeram prosperar a indústria açucareira: registros apontam a existência de 39 engenhos em 1757. Além de açúcar e aguardente, São Francisco do Conde desde o século 18 sempre foi um importante entreposto pesqueiro. Essa opulência se traduziu em sobrados, casarões e igrejas.

Parte desse passado endinheirado pode ser conhecida nas terras das antigas fazendas. Uma das ruínas mais interessantes é a da Capela de Nossa Senhora do Vencimento, da primeira metade do século 18, em Mataripe. As grossas paredes ainda permanecem firmes, mas parte do telhado foi destruído. Na ampla nave, sobressai-se o púlpito lateral. Na fachada, as torres em forma de bulbos de estilo bizantino, revestidos de azulejos. A prefeitura local tem projeto de restauração.

No entanto, a prioridade é recuperar o Imperial Instituto Agrícola de São Bento das Lages, considerado a primeira escola de agronomia e veterinária da América Latina. Feito a mando de d. Pedro II, entre 1859 e 1877, para atender os barões do açúcar, que tentavam revitalizar a cultura da cana num período em que o café ganhava relevância.

Instalou-se no local de paisagem exuberante, às margens dos Rios Sergimirim e Subaé, um palácio em estilo neoclássico, com as faces voltadas aos pontos cardeais e uma profusão de janelas, 365 diz a lenda. Era uma instituição modelo, dotada de biblioteca com 30 mil volumes, museu, gabinetes, laboratório e rico acervo de instrumentos agrários franceses, ingleses e americanos.

Mesmo em ruínas, o prédio não perdeu sua majestade. O secretário de Turismo de São Francisco do Conde, Amarildo Guedes, diz que há um projeto de restauração, feito pelo Instituto do Patrimônio Artístico Cultural do Estado (Ipac). “Buscamos uma empresa para bancar”, disse, explicando que a idéia engloba a instalação no local de uma escola superior de Turismo.

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