Mercado

Respeito merecido

Até agora muito se falou em alternativas elétricas para os automóveis. Porém, no momento, há mais gestos simbólicos do que progressos. A Petrobras, por exemplo, acaba de inaugurar no Rio de Janeiro o primeiro eletroposto público no país a oferecer recarga de veículos elétricos a partir de energia solar. A empresa espera atender uma demanda crescente a partir de uma base ainda quase inexistente. Há iniciativas no exterior, principalmente da Renault, para projetos específicos dentro de três anos em Israel, Dinamarca e Portugal, territórios sem exigência de grandes deslocamentos.

A Toyota também acena para carros elétricos em 2012, mas adianta que ainda faltam avanços às promissoras baterias de íon de lítio. A marca japonesa, primeira a apostar com firmeza nos automóveis híbridos a combustão/eletricidade, acha interessante a troca de baterias em postos em vez de recarga, desde que se alcance uma padronização ainda bem embrionária. Em declarações ao site inglês Just-auto, Masatami Takimoto, vice-presidente de pesquisas e desenvolvimento, ressaltou que cada país tem uma situação energética e se deve apostar “no carro certo, no lugar certo e na hora certa”.

Nesse cenário, entende-se o sucesso da II Ethanol Summit (Cúpula do Etanol), promovida pela União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) que representa usinas responsáveis por 60% da produção brasileira do combustível renovável. O evento realizado semana passada, em São Paulo, demonstrou o interesse internacional pelo tema e em quanto o Brasil está avançado no chamado etanol de primeira geração. Mesmo sem modificações genéticas nas mudas de cana (ainda sob restrições infundadas), a produtividade não parou de crescer —em média 4% ao ano — desde 1975 quando se lançou o Proálcool. E ainda há melhorias em vista, sem aumento da área plantada.

Para Marcos Jank, presidente da Unica, “o etanol de segunda geração, a partir de celulose da própria cana, tem potencial de produzir perto do dobro na mesma área. A quase total mecanização da colheita chegará no momento certo para aproveitamento da palha, hoje queimada. Empresas no exterior trabalham também na utilização de resíduos agrícolas, orgânicos e industriais para obter etanol”. Ele destaca ainda a potencialidade crescente de geração de bioeletricidade, equivalente a duas usinas hidroelétricas do porte de Itaipu.

O ponto alto dessa cúpula foi o etanol de terceira geração. Já existem ações em curso para produção de plásticos, porém duas empresas demonstraram o potencial de obtenção de diesel, gasolina e querosene de aviação originados de açúcares, a partir dos quais a cana é imbatível. Criam-se, assim, novos mercados de biocombustíveis como alternativa aos de origem fóssil (petróleo e gás natural), contornando barreiras de cunho político impostas por outros países, às vezes por pura ignorância da realidade.

Ficou claro que ao Brasil sobram possibilidades de atender suas necessidades energéticas limpas e exportar tecnologia, equipamentos e o próprio combustível. Veículos híbridos e elétricos, pelo menos por aqui, dificilmente vão superar o nível de mera curiosidade, apesar do respeito que merecem.

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