Mercado

Produtos básicos garantem recorde na balança

Os resultados das exportações e importações brasileiras de 2006 alcançaram recordes históricos fortemente influenciados por produtos básicos ou manufaturados de pouco valor agregado, segundo dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento. Petróleo e derivados, açúcar e álcool responderam, sozinhos, por quase um terço do aumento de US$ 19,2 bilhões nas vendas externas do país, entre 2005 e 2006. Mais da metade do crescimento nas vendas externas se deve a esses produtos, somados às exportações de minérios, papel e celulose e carnes.

Um forte crescimento nas vendas de aviões da Embraer (US$ 551 milhões no mês) e outros produtos, alvo de esforço das empresas para cumprir contratos ainda no ano fiscal de 2006, impulsionou as exportações em dezembro, e elas chegaram a US$ 12,2 bilhões, 23,5% a mais que no mesmo mês de 2005. Com isso, invertendo a tendência do ano, as importações cresceram menos que as exportações, 21%. As exportações, no ano, superaram as expectativas e alcançaram US$ 137,5 bilhões, um aumento de 17,1% em relação a 2005.

O ministro interino do Desenvolvimento, Ivan Ramalho, previu que, em 2007, as exportações deverão aumentar menos, cerca de 10% e chegar a US$ 152 bilhões, o suficiente para manter a fatia do país no mercado internacional – que, segundo Ramalho, deve crescer na mesma medida. “É um aumento grande, de US$ 15 bilhões, sobre uma base já bem maior.” Ele comentou que as exportações mais que dobraram nos últimos quatro anos (as importações aumentaram 93,5%).

O processo de concentração do setor exportador brasileiro continuou no segundo semestre do ano, ainda que em menor ritmo do que no primeiro semestre. Nos primeiros seis meses de 2006, saíram do mercado exportador 1.150 empresas, principalmente pequenas e médias. No segundo semestre, 905 empresas deixaram de atuar como exportadoras. O superávit no comércio exterior ficou em US$ 46 bilhões, 3% acima do superávit de 2005. Ramalho prevê resultado menor em 2007, devido à alta mais vigorosa das importações.

Os resultados de dezembro nas exportações ilustram a tendência de concentração dos aumentos nas vendas em produtos de cadeias produtivas curtas, com poucas etapas de produção e menor geração de empregos. Embora tenham sido os industrializados os maiores responsáveis pelo bom desempenho, as exportações de manufaturados que tiveram maior crescimento em relação a dezembro de 2005 foram açúcar refinado (166,7%) e polímeros plásticos (136%), óleos combustíveis (112,3%) e álcool etílico (108%).

“O conceito de manufaturados é muito elástico; o que cresce no Brasil é principalmente a venda de produtos de baixo valor agregado, commodities ou quase-commodities”, comentou o especialista Fábio Silveira, da RC Consultores. “A Embraer é a exceção que confirma a regra.” As vendas de alguns manufaturados mais sofisticados, dos setores de material de transporte (aviões, carros, vagões), produtos metalúrgicos (onde se incluem autopeças) e aparelhos elétricos e eletrônicos, como celulares, também tiveram crescimento sensível, mas próximos à medida das exportações, entre 8% e 18%.

Silveira alerta que os mercados internacionais já mostram tendência de queda nos preços de importantes commodities. Em 2006 houve queda – moderada na maioria dos casos – em setores fortemente empregadores de mão-de-obra, como móveis (-1,8%), têxteis e algodão (- 4,7%) e pescado (- 9,8%), além da redução nas vendas do setor de soja (- 1%). O setor de calçados e couro, apesar das queixas e problemas dos calçadistas registrou aumento de quase 14% nas vendas, no ano, devido principalmente às exportações de couro. “As indústrias com cadeias de produção curta não têm o mesmo potencial de absorção de mão-de-obra que nos outros setores, como os que estão crescendo na China e na Índia”, critica Silveira.

A América Latina vem ganhando peso como mercado para produtos brasileiros: comprava 21,5% das exportações em 2005, e passou a 22,8% em 2006. Outro mercado, que ganhou maior relevância, foi o Oriente Médio, de 3,6% para 4,2% do total. Já EUA e União Européia, perderam posição relativa, respectivamente de 19,2% para 18%, e de 22,4% para 22,1%.

O setor de material de transporte, que inclui aviões e automóveis, consolidou-se como o principal setor exportador do país, com US$ 20,4 bilhões, quase 15% do total das vendas externas em 2006. Em um sinal de que esse resultado está ligado às estratégias globais das grandes montadoras, foram os automóveis, também, os maiores responsáveis pelo aumento nas importações de bens de consumo no país, as que mais cresceram, com aumento de 42%. O aumento nas importações de bens de consumo duráveis chegou a 56% (135,7% de aumento só em automóveis).

Para o ministério, esse índice reflete a reativação do comércio do setor automotivo com a Argentina, que se manteve à frente da China, como o segundo maior mercado fornecedor do Brasil (os EUA continuam como o primeiro).

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