Mercado

Preço do etanol já supera o da gasolina

Roque André Colpani, presidente do Sindicato de Revendedores Varejistas de Combustíveis (Sindicomb) do Litoral Catarinense e Região afirma que um novo reajuste no etanol deve ocorrer nos próximos dias. Desde o início do ano, o preço do combustível nas usinas do país aumentou 19,6%. Nos últimos 12 meses, o acumulado chega a 42,55%.

Para o consumidor catarinense, o preço médio aumentou R$ 0,31 por litro desde abril do ano passado, segundo pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 1.158 postos. Na Capital, o preço mais alto do etanol sai R$ 0,10 a mais do que a gasolina. SC é vice-campeã na lista dos estados onde a gasolina acaba sendo mais vantajosa do que o etanol – só perde para o Rio Grande do Sul.

O preço médio da gasolina em SC está em R$ 2,64 por litro, o que torna o etanol competitivo até R$ 1,84. Mas a média aqui é de R$ 2,22, 20,1% acima do ponto de equilíbrio entre os combustíveis. A vantagem do etanol é calculada considerando que o poder calorífico do motor a álcool equivale a 70% do potencial conquistado pelos motores à gasolina.

Um efeito direto da escalada de preços do etanol é que as vendas do combustível em Itajaí, Joinville e cidades próximas caiu 90% nas últimas duas semanas, segundo Colpani.

– A comercialização do produto nos postos é praticamente zero. Apenas quem tem carros mais antigos, que só usam esse tipo de combustível, continua consumindo o produto.

O pedreiro Ângelo Joacir dos Santos é um destes consumidores. Acreditando na propaganda de que os carros movidos a etanol eram mais econômicos, trocou um automóvel a gasolina em outubro de 2010 por um Verona ano 1997 abastecido exclusivamente com etanol.

Safras menores e atraso nos investimentos explicam a alta

O investimento foi positivo no início, quando ele gastava R$ 250, em média, por mês. Agora, ele calcula que gastará até R$ 350 mensalmente.

– Comprei esse carro por causa do combustível, que era mais vantajoso. Uso ele para o trabalho e para passear com a família. Mas se o destino for perto de casa, estou preferindo ir a pé ou de bicicleta – conta.

De acordo com Luiz Ângelo Sombrio, diretor institucional do Sindicomb da Grande Florianópolis, quando o preço do etanol está vantajoso para o consumidor, cerca de 30% dos 25 milhões de litros vendidos a cada mês na região correspondem ao produto. Este número chegou a quase 50%, em 2009, mas despencou para, no máximo, 15% agora.

– A maior escalada de preços começou em outubro. Até setembro ainda valia a pena abastecer com o etanol. Em junho, por exemplo, pagávamos R$ 1,44 o li tro para o distribuidor. Agora, pagamos R$ 2,40, o mesmo que para o litro da gasolina.

Segundo a pesquisadora Ivelise Bragato, especialista no mercado do etanol do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da USP, a origem do problema do etanol está na crise econômica de 2008, que postergou os investimentos planejados pela indústria.

– Depois, a safra (de cana-de-açúcar) de 2009 foi prejudicada pelo excesso de chuvas no país e, a de 2010, teve uma produção de 45 milhões de toneladas mais baixa por causa da estiagem – revela.

Enquanto a oferta do etanol não aumentou como era esperado pelas projeções do mercado, a demanda pelo combustível acelerou com a venda crescente dos carros flex.

Nas últimas safras, segundo a pesquisadora, a elevação do preço do açúcar fez com que parte da produção da cana fosse utilizada para produzir a commodity. Na safra de 2009-2010, 57% da produção nacional foi direcionada para o etanol. Esse número baixou para 55% na safra 2010-2011.

O cenário atual deve fazer com que o Brasil importe 200 milhões de litros de etanol anidro dos Estados Unidos para abastecer o mercado em abril, segundo Alísio Vaz, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom).

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