Mercado

Petróleo está assinando sua sentença de morte, diz estudo

Os preços do petróleo vão permanecer bem acima dos US$ 50 por barril nos próximos anos, pressionados pelo aperto entre a oferta e consumo mundial. Essa situação vai forçar uma maior economia energética e, ao mesmo tempo, fortalecer o emprego de outras fontes de energia sustentável, como o etanol produzido pelo Brasil. Com isso, a importância do petróleo como fonte energética no mundo vai declinar gradualmente nos próximos dez anos.

Essa é a conclusão do estudo “Uma nova era para os preços do petróleo”, elaborado por um dos especialistas mais conceituados do setor, John Mitchell, do instituto Chatham House, de Londres. “O petróleo está assinando sua própria sentença de morte ao se precificar fora do mercado e tornando muito atrativas alternativas energéticas que anteriormente eram caras para os consumidores”, disse Mitchell. Segundo ele, ao se acostumarem com preços altos, os consumidores vão encontrar maneiras de mitigar sua dependência do petróleo. Paulatinamente, isso vai enfraquecer a posição da indústria petrolífera no mundo e expô-la a uma competição ainda maior com produtos e serviços energéticos eficientes.

Fim do superávit

Desde 2003, o mercado mundial de petróleo tem se afastado do período de equilíbrio que marcou as duas décadas anteriores, quando os preços do barril flutuavam em torno dos US$ 25. “A razão mais importante disso é que a crescente demanda eliminou o superávit estrutural da produção de petróleo que existia desde o choque nos preços entre 1979 e 1983”, disse Mitchell. Ele observou que até agora, os preços elevados da commodity não provocaram uma recessão econômica nos países importadores. Por isso o consumo de petróleo não caiu como na década de 80 após o segundo choque nos mercados. “A menos que isso ocorra, um superávit estrutural não será recriado, e os preços deverão continuar altos, acima dos US$ 50 por barril, até que entrem ação efeitos de longo prazo.” Mas, segundo ele, se a situação no Oriente Médio se deteriorar os preços poderão atingir novos recordes. “Mas a reação dos consumidores na busca de alternativas energéticas seriam mais rápida e forte”, disse.

Segundo Mitchell, o desaparecimento de uma sobra na oferta do petróleo significa que o principal mecanismo para se estabilizar os preços da commodity – o controle da produção pela Opep e outros exportadores importantes – funcionará no futuro apenas durante períodos de forte recessão econômica, quando esses países tentarão proteger seus ganhos. Por isso, segundo o analista, a volatilidade nos preços deverá continuar.

Etanol

No setor de transportes, Mitchell assinala que há um amplo leque de possibilidades que não dependem do desenvolvimento de novas tecnologias. Segundo ele, uma mudança no perfil do consumo de veículos nos Estados Unidos que seguisse o padrão europeu e japonês de busca de maior eficiência energética reduziria a demanda mundial de combustíveis em cerca de 10%. “Outro exemplo seria a abertura dos mercados dos Estados Unidos e Europa para a competição do etanol produzido pelo Brasil e outros países em desenvolvimento”, disse.

Gás

Mitchell afirma que o gás tem sido considerado um concorrente do petróleo em vários setores. Ele pode ser usado como uma fonte direta de aquecimento e para a geração de eletricidade através de usinas termoelétricas. “Entretanto, a disponibilidade de gás em vários países depende de investimentos para sua importação, o estabelecimento de um sistema de distribuição que estimule a concorrência, e de seus preços em comparação aos derivados de petróleo”, explicou .

Segundo o analista, a expansão do uso do gás na América latina depende principalmente do desenvolvimento dos recursos da Bolívia para o abastecimento do Brasil e Argentina. “Embora os atuais níveis de abastecimento de gás possam ser mantidos, a nacionalização abrupta das empresas estrangeiras produtoras de gás na Bolívia colocou em dúvida os planos de expansão futura”, disse.

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