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Pesquisadores aumentam em até 120% a sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar

A descoberta pode aumentar e baratear a produção do etanol de segunda geração

Pesquisadores aumentam em até 120% a sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar

Pesquisadores do Laboratório de Bioquímica de Plantas da Universidade Estadual de Maringá (Bioplan-UEM), no Paraná, e do Laboratório de Fisiologia Ecológica da Universidade de São Paulo (Lafieco-USP) conseguiram aumentar em até 120% a sacarificação do bagaço da cana-de-açúcar ao longo de 12 meses.

Através da aplicação de compostos naturais às plantas – um deles à base de ácido metilenodioxicinâmico (MDCA); outro, com ácido piperolínico (PIP); e um terceiro que leva daidzina (DZN).

“Desenvolvemos três compostos diferentes, cada um com características específicas, que foram aplicados individualmente à cana-de-açúcar, à soja e à braquiária”, explica o biólogo Wanderley Dantas dos Santos, coordenador do Bioplan-UEM.

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Segundo Santos, MDCA, PIP e DZN são inibidores da lignina, molécula que confere rigidez à parede celular da planta.

“De forma geral, os compostos que desenvolvemos alteram o metabolismo da lignina. Isso facilita o acesso à parede celular da planta, onde está localizada a celulose. Assim, é possível produzir mais açúcar, mais carboidrato.”

No caso da cana-de-açúcar, a descoberta pode contribuir para aumentar e baratear a produção do etanol de segunda geração, feito a partir do resíduo da biomassa (bagaço) da planta.

“Nossa ideia é gerar uma cana-de-açúcar mais fácil de sacarificar, com a extração de açúcares das celuloses”, diz Santos.

Segundo Marcos Buckeridge, coordenador do Lafieco e pesquisador do RCGI, atualmente a indústria tem um gasto financeiro alto para realizar o chamado pré-tratamento, quando se retira a lignina para tornar os carboidratos acessíveis às enzimas que digerem esses polissacarídeos e produzem açúcares que podem ser fermentados para produzir o etanol de segunda geração. “Isso impacta o custo de produção em 30%”, informa Buckeridge.

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Com a aplicação dos compostos desenvolvidos pelos pesquisadores seria possível aproveitar melhor a biomassa da cana-de-açúcar. “Com a modificação na lignina, o bagaço se torna mais fácil de ser digerido pelas enzimas. Ou seja, será necessário utilizar menos enzimas no decorrer do processo. As enzimas correspondem à parte mais cara da produção do etanol de segunda geração”, prossegue Buckeridge. Hoje boa parte desse bagaço é descartada pela indústria. “A utilização do bagaço poderia aumentar em até 40% a produção de etanol no Brasil.”

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