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Paraná estréia na era e no mercado de biodiesel

A partir deste mês, o Paraná passa à condição de produtor no programa nacional do biodiesel. A usina Biopar, de Rolândia (Norte), começará a fabricar, para a Petrobras, 700 mil litros do combustível ao mês a partir do dia 15. Nada de mamona, girassol, pinhão-manso, amendoim. A base será o óleo de soja, considerado uma matéria-prima cara para esse fim. A projeção do governo estadual, no entanto, é que, em 2009, a produção vai ultrapassar o consumo interno do estado, hoje estimado em 85 milhões de litros de biodiesel ao ano (misturados ao diesel). Ou seja, a perspectiva do Paraná é passar de produtor incipiente a exportador, em dois anos.

O início da produção na Biopar ocorre duas semanas antes de a mistura de biodiesel ao diesel ser elevada de 2% (B2) para 3% (B3) em todo o país, por determinação do Conselho Nacional de Política Energética. Essa decisão amplia o mercado do combustível renovável de 850 milhões para 1,3 bilhão de litros ao ano. É justamente esse aumento forçado do mercado (a mistura obrigatória será de 5% em 2013) que está viabilizando o biodiesel vegetal, mais caro que o diesel comum.

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Setor precisa de 2 milhões de hectares de soja

Com a entrada em vigor do B3, a área de soja necessária para alimentar a indústria de biodiesel aumenta de 1,5 milhão para 2 milhões de hectares, segundo o coordenador nacional do programa, Arnoldo de Campos. Isso porque, afirma, o grão ainda é fonte de 80% do combustível renovável. Cerca de 10% são produzidos com outras plantas oleaginosas e 10% com gordura animal. A área equivale a metade de toda a extensão das lavouras de soja do Paraná. Para atender suas próprias usinas, o estado deverá destinar a produção de aproximadamente 500 mil hectares, segundo estimativa do governo estadual. Os sojicultores ainda não têm vínculos com a indústria, mas devem ser procurados para firmar contratos, a exemplo do que ocorre com os produtores de mamona. (JR)

A pressão da demanda elevou o preço do biodiesel nos leilões da Petrobrás. O litro do produto, que era cotado a R$ 1,86 em outubro do ano passado, chegou a R$ 2,17 em dezembro e, nos últimos dois leilões, alcançou R$ 2,68 e R$ 2,74. Era o que a Biopar, instalada há um ano, esperava para entrar no negócio. Vendeu 2 milhões de litros do combustível a R$ 2,68 e, para cumprir o contrato, deverá produzir 700 mil ao mês até setembro, com cerca de 20 funcionários.

“Será uma primeira experiência. Teremos, a partir daqui, uma base concreta para avaliar se é viável produzir a esse preço”, afirma o diretor industrial e sócio da empresa, Nivaldo Tomazella. A matéria-prima será comprada de esmagadoras de soja da região de Rolândia, conta.

O litro de óleo de soja – que rende entre 900 ml e 1 litro de biodiesel – custa cerca de R$ 2 para a usina de Rolândia. O valor equivale ao preço do diesel na bomba, conforme pesquisa da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Esses números mostram que, na competição com o combustível fóssil, o biodiesel de R$ 2,68 custa, para a Petrobrás, 35% mais caro que o preço de mercado do diesel – só o custo da matéria-prima representa 74% desse valor.

Apesar dessa aparente inviabilidade, o Paraná vai entrar “de cabeça” no programa, como vêm fazendo os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul, prevê o coordenador do Programa de Bioenergia do Paraná, Richardson de Souza, da Secretaria Estadual da Agricultura (Seab). Ele considera que a usina de R$ 60 milhões que a multinacional Agrenco implanta em Marialva (Noroeste) está prestes a entrar em funcionamento. Além disso, outra usina deve ser instalada até o segundo semestre de 2009 pela Petrobrás em Palmeira (Campos Gerais), com investimento de R$ 120 milhões. “A capacidade será de 110 milhões de litros ao ano na usina da Agrenco e 113 milhões na da Petrobrás, cerca de 10 milhões a mais do que o Paraná consome, já considerando o B3”, afirma.

A avaliação não soma os 360 milhões de litros/ano da maior usina do Brasil, a ser instalada em Tibagi (Campos Gerais) com investimento de R$ 303 milhões anunciado pelo Instituto Gene, de Blumenau (SC). Se esse projeto for colocado em prática, o Paraná poderá produzir metade do biodiesel consumido no país com o B3, isso só a partir da soja. “Vamos produzir 280 milhões de litros ao ano já a partir de 2009”, diz Richardson. Outras 15 oleaginosas vêm sendo pesquisadas pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), com o objetivo de viabilizar a entrada da agricultura familiar na produção de energia.

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