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País construirá uma usina por mês até 2012

O Brasil vai ganhar em média uma usina de álcool e açúcar por mês nos próximos seis anos. Hoje com 336 unidades, deve chegar a 409 até o final da safra 2012/2013. Para erguer tudo isso, investidores brasileiros e estrangeiros, com tradição ou não no setor, vão aplicar US$ 14,6 bilhões no período.

Esses são empreendimentos firmes. O levantamento da Unica, associação dos usineiros, baseia-se na contabilidade de usinas em construção e naquelas que já iniciaram os investimentos agrícolas, como a formação das primeiras áreas de cana e a produção de mudas.

Fora as 73 usinas confirmadas, há hoje no Brasil 189 consultas em andamento, tanto para construção como para ampliação de unidades. É o que informa a Dedini S.A. Indústrias de Base, que detém 50% das vendas de equipamento para usinas de açúcar e álcool, e que atingiu a marca do R$ 1 bilhão de receitas no ano passado.

Nem todas essas consultas vão evoluir para um projeto concreto, mas a quantidade de sondagens dá bem a dimensão do interesse, diz José Luiz Olivério, vice-presidente de operações da Dedini. Quarenta por cento das consultas são de empresas estrangeiras, entre as quais fundos de investimentos focados em negócios com apelo ambiental, fundos que compram participação, investidores isolados, multinacionais ou ainda consumidores estrangeiros que pretendem estar perto da oferta.

Uma boa medida do tamanho da aposta no etanol é a Infinity Bio-Energy. Criada há pouco mais de um ano, com capital de US$ 350 milhões, ela comprou no ano passado três usinas no Brasil, com capacidade para moer 3 milhões de toneladas de cana. Investimento de R$ 120 milhões deverá elevar a capacidade dessas unidades a 5,6 milhões de toneladas na safra 2008/2009.

Mas essa é a parte menor do plano. A empresa pretende construir seis usinas novas em Mato Grosso (onde já comprou área de 4 mil hectares para a formação de um megacanavial), no Espírito Santo e na Bahia. Além disso, negocia a aquisição de usinas já existentes em Minas Gerais e na Bahia. O investimento supera US$ 1 bilhão, capital que a Infinity pretende obter com operações em bolsa estrangeira ou com empréstimos no mercado financeiro.

Cumprido o plano, a empresa terá capacidade para processar 16 milhões de toneladas de cana. Cerca de 70% dessa matéria-prima vai virar álcool para exportação. A aposta se baseia na competitividade do produto brasileiro.

O milho dos EUA não é a melhor matéria-prima para produção de etanol, diz Sérgio Thompson-Flores, presidente do grupo. E, se hoje é viável, isso ocorre devido aos subsídios. Acho que no momento em que o etanol se tornar um produto mundial, esse aspecto que só o Brasil tem (produção de álcool em larga escala a partir da cana) será determinante para o retorno dos empreendimentos.

Parece ser a crença que carrega boa parte de quem vem aqui investir em usinas de álcool, e que eleva a disputa por ativos no Brasil. A própria Infinity tentou comprar quatro destilarias do Grupo Tavares de Melo. A francesa Louis Dreyfus, que tinha três usinas, bancou a oferta da Infinity e ficou com os ativos. O banco de investimento WestLB, coordenador da oferta da Infinity, corre atrás de projetos em todo o País.

Segundo Angélica Wiegand, vice-presidente-executiva de operações estruturadas do banco, o apetite do setor financeiro para financiar operações desse tipo no Brasil é enorme. O banco estrutura cinco operações de compra de usinas ou de construção no País.

A Clean Energy Brazil (CEB), empresa criada para operar no mercado sucroalcooleiro brasileiro, obteve no fim do ano passado o equivalente a mais de R$ 400 milhões, numa oferta pública na Bolsa de Londres. A empresa negocia a compra de 49% das ações do grupo paranaense Usaciga. A Etanalc, do empresário do ramo imobiliário Áureo Luiz de Castro, já anunciou parcerias para projetos, num total de US$ 4,2 bilhões, para a construção de usinas em Estados sem tradição na produção de etanol, como o Tocantins.

É difícil ainda avaliar quais planos são de fato economicamente viáveis, mas a febre é inédita. E a explicação é simples: Claro que depende de cada projeto, mas as expectativas são de que o retorno sobre o capital não é menor do que 20%, avalia Luiz Eduardo Costa, sócio da Brasilpar, consultoria especializada em fusões e aquisições no setor de açúcar e álcool.

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