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Odebrecht planeja ampliar áreas de atuação em Portugal

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A recuperação da economia portuguesa, após a austeridade imposta pelos credores desde a crise financeira de 2008, pode abrir as portas para expansão de negócios da Odebrecht no país. Em entrevista ao Valor, Fábio Januário, diretor da empreiteira para a região que engloba Portugal, Emirados Árabes Unidos e Líbia, disse que oportunidades em infraestrutura portuária e ferroviária serão o foco, mas que o grupo vai também tentar diversificar seus negócios além de engenharia e construção.

Um dos objetivos da companhia é tornar o mercado luso uma base de entrada para a região para produtos industrializados. O executivo afirmou que os principais setores seriam o petroquímico, o de etanol e parcerias entre portos e a Embraport, sociedade entre a Odebrecht TransPort e a Dubai Ports World, localizada em Santos (SP).

No setor petroquímico, a Odebrecht possui 50,1% do capital com direito a voto da Braskem, a maior das Américas nesse ramo de atuação. O controle é dividido com a Petrobras, que detém 47%. Já em etanol, a atuação é por meio da Odebrecht Agroindustrial, com capacidade produtiva de 3 bilhões de litros de etanol por ano.

Para a Embraport, a parceria seria com novos portos que a brasileira pode investir no futuro. Isso está no horizonte de Januário, já que essa seria uma lacuna ainda a preencher na malha de infraestrutura do país. O interesse específico, no momento, é em um terminal no Barreiro, na margem sul do rio Tejo. “Enxergamos nossa atuação em Portugal a curto e médio prazo nos segmentos ainda com lacuna e que podem gerar riquezas para o país”, disse. “As mais importantes são a portuária e a ferroviária.”

O grupo chegou ao mercado português há 27 anos e sempre aproveitou a proximidade com a comunidade europeia, segundo o executivo. Dentre as obras destacadas pela empresa, surgem o metrô de Lisboa; a ponte Vasco da Gama, sobre o rio Tejo; além de participações no sistema rodoviário. A única concessão ainda operada é a do Baixo Tejo, na capital.

Sobre o setor ferroviário, é expectativa da Odebrecht que o governo de Portugal lance, provavelmente no ano que vem, um pacote considerado “significativo” pelo diretor da subsidiária. Essa perspectiva tem a ver, dentre outro fatores – como a lacuna citada pelo executivo na malha ferroviária – pelo recente reaquecimento da economia portuguesa.

“Portugal vive um momento muito particular em sua economia. Entrou em recuperação com os credores e o processo de equilíbrio das contas fiscais, que é um desafio, é satisfatório”, afirmou Januário. “Já há sinal de retomada do crescimento e da redução do desemprego e vamos continuar participando desse momento.”

Durante a crise que abalou não só Portugal, mas a maioria das nações europeias periféricas, o diretor conta que conquistar negócios era bem mais difícil. Com a recessão, o governo deixou de lançar pacotes de infraestrutura e a competição se acirrou, explica. A concorrência levou a quedas na rentabilidade dos projetos e a Odebrecht adotou uma postura de maior seletividade.

“Alguns ‘players’ [no mercado europeu] têm capital aberto e atendem a seus acionistas. Então às vezes podem ser obrigados a repor carteira de ativos e, talvez, enxerguem mais quantidade do que qualidade”, disse.

Sobre operar novas concessões, Januário explica que o maior interesse da empresa – que funciona em Portugal por meio da Odebrecht Infraestrutura – seria em água e saneamento, à medida em que existirem projetos do governo nessas áreas.

O executivo também responde pelos negócios nos Emirados Árabes Unidos e na Líbia. Em Abu Dhabi, a empreiteira conquistou o contrato de uma estação de bombeamento de esgoto, que passa pelo meio do deserto e vai cuidar de todo o sistema local.

Mas na Líbia a perspectiva é bem pior. “Temos dois grandes projetos, o do aeroporto internacional de Trípoli [capital do país] e o terceiro anel rodoviário da cidade”, disse. “Desde a Primavera Árabe, contratos foram suspensos, há maior instabilidade e não conseguimos retomar as obras. Negociamos com os sócios o encerramento desses contratos e queremos resolver esse assunto até o fim de 2016.”

O mercado externo torna-se uma opção neste momento em que a empresa está no centro das investigações da Operação Lava-Jato no Brasil, que desvendou um esquema de corrupção na Petrobras. O presidente do grupo, Marcelo Odebrecht, está preso desde 19 de junho.

Fonte: (Valor)

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