Quando a planta da Braskem for oficialmente inaugurada na sexta-feira, em Triunfo, milhares de litros de etanol já estarão percorrendo as 2,1 mil toneladas de tubulações que compõem a gigante do plástico verde.
O vigor na produção tem motivo: antes mesmo do término das obras, nada menos do que 70% da produção anual – estimada em 200 mil toneladas – já estavam comercializados.
A tendência, segundo o diretor de Empreendimentos da empresa, Guilherme Guaragna, é que a procura pela resina aumente ainda mais daqui para frente. E a principal explicação para isso é de ordem ambiental. Países da União Europeia já assinaram um acordo para que, até 2030, pelo menos 30% da energia e das matérias-primas usadas no território tenham como base fontes renováveis.
Isso significa que, enquanto os derivados do petróleo estão com os dias contados, alternativas como o plástico verde da Braskem são cada vez mais valorizadas. O grande diferencial da resina feita em solo gaúcho é que ela tem como base a cana-de-açúcar. Além de captar dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, a planta dá origem a um produto final 100% renovável – uma senha para negócios milionários.
– Temos recebido pelo menos uma consulta por semana de empresas e países interessados em conhecer a nossa fábrica e em receber uma das nossas unidades – diz Guaragna.
Por questões estratégicas, a Braskem mantém em sigilo os planos para o futuro. Ainda assim, o diretor não descarta a possibilidade de ampliação da planta de Triunfo, especialmente se o Rio Grande do Sul apostar nas plantações de cana – que hoje ainda são insignificantes em comparação com as lavouras do Sudeste.
A demanda é tão grande que os 467 milhões de litros de etanol que a empresa pretende utilizar ao longo de um ano inteiro podem, muito em breve, se tornar insuficientes.
A CANA-DE-AÇÚCAR
> No Brasil, segundo dados da Embrapa Agroenergia, a área plantada é próxima dos 8 milhões de hectares.
> A expectativa é de que a safra 2010/2011 chegue a 651,5 milhões de toneladas – um aumento de 7,8% em relação ao período anterior.
> Estima-se que o setor empregue 500 mil pessoas na atividade, sendo 140 mil apenas no Estado de São Paulo.
> Depois de colhida, a cana é vendida para usinas de etanol espalhadas pelo país.
A LOGÍSTICA NO TRANSPORTE
Para transportar o etanol comprado das usinas, a Braskem investiu em um sistema diferenciado, que inclui transporte férreo e naval.
50% será feito via navios e outros 50% por trens. Caminhões serão utilizados apenas esporadicamente.
Para chegar ao Terminal Santa Clara, em Guaíba, as barcaças que vêm dos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) percorrem um canal de três quilômetros até Triunfo. No terminal, o etanol é descarregado para tanques, de onde é transportado por meio de uma tubulação de 4,5 quilômetros até a fábrica, onde é armazenado.
A FÁBRICA
Envolveu um investimento total de R$ 500 milhões
Levou 16 meses para ficar pronta
Tem potencial para receber e processar 467 milhões de litros de etanol ao ano
A capacidade de produção é de 200 mil toneladas anuais de eteno – que origina o polietileno verde
Tem 3.650 toneladas de equipamentos mecânicos
É composta de 1.109 toneladas de estruturas metálicas, 454 quilômetros de cabos, 16,6 mil metros cúbicos de concreto e 2,1 mil toneladas de tubulações
Durante as obras, gerou 2,2 mil empregos
Em operação, oferece 100 postos de trabalho
OS NÚMEROS
> Para o transporte naval, um navio fará de duas a três viagens por mês
> Para o férreo, 11 vagões farão o transporte por dia, ao longo de cerca de 1,1 mil quilômetros de trilhos