Mercado

O exterminador do etanol

O Brasil está correndo contra o tempo para garantir o futuro do comércio do etanol no mercado americano e, por consequência, mundial. A Califórnia, estado governado por Arnold Schwarzenegger, apresentou, no mês passado, complexo documento contendo o resultado de um ano de pesquisas que não só aponta os benefícios do etanol do milho, como ressalta falhas do combustível brasileiro, produzido a partir da cana-de-açúcar. A pesquisa foi desenvolvida pela Universidade de Purdue (da cidade americana de Indiana), a partir de dados do Grupo de Estudos e Trabalhos Agropecuários (Getap, sigla em inglês). O documento seria mais um ponto na guerra pela comercialização do etanol. Hoje, o combustível brasileiro enfrenta taxação de US$ 0,54 por galão, mais 2,5% de taxa, ao entrar nos Estados Unidos.

Ao todo, ! o Brasil teria 45 dias para apresentar um segundo estudo, contrapondo itens como o avanço da cana sobre áreas de pastagens, remoção de cobertura vegetal, invasão do espaço de outras culturas, além do sequestro de carbono inferior ao do etanol de milho. A contar da data de apresentação, o prazo brasileiro expiraria em 23 de abril. “O documento é pesadíssimo e chega em um momento onde o estado da Califórnia acrescenta etanol à gasolina. Nos massacrou”, comenta uma fonte ligada do setor, que teve acesso ao estudo, sendo também especialista e pesquisador sobre o tema.

Com PIB aproximado de US$ 1,5 trilhão, o estado da Califórnia, se fosse um país, poderia ocupar lugar entre as 10 maiores economias do mundo. No ano passado, o PIB brasileiro fechou em R$ 2,9 trilhões, ou US$ 1,3 trilhão. “Um estudo com esse teor, se chegar ao Congresso americano, que é conservador, pode ter uma consequência negativa para o Brasil”, comenta o secretário de Agricultura Pecuária e Abastecimento de Mina! s Gerais, Gilman Viana.

O assunto está sendo tratado como sigiloso. Esta semana, executivos brasileiros ligados ao setor de biocombustíveis estavam em viagem para a Califórnia. O Ministério de Minas e Energia não confirmou a informação, mas ressaltou que existem pesquisas americanas no sentido de comprovar benefícios do reaproveitamento do resíduo do milho. Coincidentemente, a Embrapa Agrobiologia está trabalhando em um estudo para comparar a economia de gás carbônico na produção do etanol de milho e da cana-de-açúcar, a partir de dados do Departamento de Agricultura Americano.

Entre os principais argumentos da pesquisa do estado da Califórnia está o fato de o resíduo do milho ser utilizado para alimentação de bovinos, além de poupar áreas de outras culturas. De acordo com o documento, apesar de mais caro, no balanço energético global o etanol do milho seria menos nocivo ao meio ambiente.

Jim Young/Reuters 20/3/09

O professor de geografia agrária da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador na área do etanol, Ariovaldo Umbelino de Oliveira, considera que o estudo da Califórnia pode se tornar mais uma barreira ao produto brasileiro. No entanto, ele ressalta que o presidente dos Estados Unidos deixou claro que não pretende no momento, rever a sobretaxa. “O etanol é um combustível para o mercado interno.” Segundo o professor, a produção do etanol de milho para o governo americano é uma questão estratégica, e por isso, o país deve continuar importando apenas pequenas quantidades de outros países. “Já quanto ao Brasil, pelo último balanço da Petrobras podemos perceber que a prioridade de investimento do país será o pré-sal. O mercado é implacável”, avalia.

“O sucesso incomoda”, resume o especialista da Octávio Antônio Valsechi, professor pesquisador da Universidade Federal de São Carlos. Segundo ele, o país desenvolveu um combustível viável ambientalmente e ecologicamente e por isso uma grande promessa mundial nos próximos cinco anos. “Certamente o etanol será uma das matrizes energéticas do mundo.”

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