Mercado

Nós vamos cobrar o acordo

Irritada com o rompimento, pelos usineiros, do acordo que fixou em R$ 1,05 o preço do álcool combustível nas usinas durante a entressafra de cana-de-açúcar, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, chamou ontem representantes do setor sucroalcooleiro para uma conversa no Palácio do Planalto. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, e outros ministros também foram chamados. O presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho, representou os empresários, ao lado de outros conselheiros da entidade.

O governo teme que altas expressivas do álcool elevem os índices de inflação. Outro temor é que o produto falte no mercado interno. Aliado dos usineiros, Rodrigues adiantou que o governo não vai ceder aos apelos do setor para uma elevação do preço máximo praticado nas usinas. Vamos cobrar do setor o compromisso assumido em janeiro, disse Rodrigues. Ele não quis adiantar, no entanto, o que poderá ser feito se o acordo continuar a ser descumprido. Os representantes dos usineiros saíram sem dar declarações.

Na sexta-feira (17), os preços, tanto do hidratado como do anidro, chegaram a R$ 1,072 nas usinas, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), ultrapassando o valor R$ 1,05 por litro acertado em 11 de janeiro entre usineiros e governo. A situação ficou muito chata para o ministro, afirmou uma fonte.

Isso porque, em janeiro, quando os preços do álcool dispararam, Rodrigues e assessores saíram em defesa dos usineiros, disseram que a alta era resultado de uma situação de mercado e convenceram Dilma e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aceitarem o teto de R$ 1,05 para o litro do álcool. Dilma e Lula queriam manter o preço de R$ 1,00 acordado em 2003.

Na reunião de janeiro, Dilma, apesar de ceder, não concordou com a posição de Rodrigues e quis que o ministro desse um puxão de orelhas nos usineiros, ou seja, cobrasse compromisso com o abastecimento interno de álcool. Ela própria criticou o setor durante o encontro, pelo fato de os usineiros defenderem o livre mercado para o álcool. A ministra irritou-se com o fato de os empresários sustentarem que o mercado do álcool é livre, e por isso um acordo de preços não poderia ser feito.

Dilma perguntou aos empresários como é que podia haver livre mercado se o setor é beneficiado pela ausência da cobrança da Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) e ainda por uma cobrança de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) baixa para os carros a álcool e flex fuel. Rodrigues foi o fiador do acordo, e agora com que cara ele fica?, questionou um assessor do ministro.

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