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MST briga com agricultores por usina em Pernambuco

Ex-símbolo do poder econômico e político da aristocracia açucareira de Pernambuco, a Usina Catende está entre as 40 áreas de conflito de terra mapeadas no estado e vive em permanente clima de tensão. Mais de 90 boletins de ocorrência já foram registrados em delegacias policiais de municípios como Catende, Xexéu, Jaqueira e Palmares. Grande parte relata incêndios nos canaviais geridos por lavradores.

O motivo é a disputa entre os militantes da Federação dos Trabalhadores de Agricultura de Pernambuco (Fetape) – que participam das iniciativas de recuperação da usina desde o início – e os do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) – que chegaram depois para tentar tomar o projeto e são acusados de violência.

No meio do século passado, a Catende chegou a ser considerada a maior usina da América Latina. A partir dos anos 90, entrou em decadência, durante a quebradeira que atingiu 18 usinas pernambucanas. Mas, em vez de ser sucateada ou ter seu maquinário transferido, foi preservada pelos trabalhadores, que viam na indústria e nos seus 48 engenhos um meio de receber os créditos trabalhistas, avaliados à época em mais de R$ 57 milhões, uma das heranças de um passivo então calculado em R$ 600 milhões.

Usina foi transformada em modelo de autogestão

No auge da crise, em 1993, cerca de 2.300 cortadores de cana foram demitidos sem receber seus direitos. Reuniram forças e transformaram a usina em modelo de autogestão, que o governo federal reconhece como o maior exemplo de economia solidária do Brasil. De acordo com o Incra, a hoje Cooperativa Harmonia-Catende está a caminho de se transformar no primeiro assentamento agroindustrial no país. É o segundo maior sob responsabilidade da autarquia. São 3.543 famílias assentadas, além de 455 outras que trabalham na parte industrial.

No dia 15 de junho, militantes do MST invadiram a sede do Incra em Recife para exigir mudanças no projeto e ratificar a posição do movimento, segundo o qual é inaceitável a permanência de uma usina em um assentamento. Ou seja, uma repetição da monocultura que os lavradores tanto criticam.

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