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Metanol abala marketing do biodiesel

Combustível deixa de ser 100% renovável ao utilizar o álcool de origem fóssil. Embora haja uma oferta abundante de álcool no Brasil, a maioria dos fabricantes de biodiesel utiliza o metanol – álcool derivado do petróleo – para produzir o combustível à base de óleos vegetais. Com o uso de material fóssil na composição do biodiesel, que oferece custo inferior ao valor gasto com a utilização do produto derivado da cana-de-açúcar, os produtores brasileiros perdem a chance de fornecer futuramente ao mercado mundial um combustível 100% renovável, feito somente a partir de matérias-primas agrícolas.

Além disso, a produção nacional de metanol não é suficiente para atender a demanda, o que faz o Brasil gastar hoje US$ 60 milhões por ano com importações do insumo, quantia que deverá crescer substancialmente nos próximos anos por causa do esperado aumento de oferta de biodiesel.

O apelo ecológico tem sido instrumento de marketing importante para valorizar produtos negociados nos países desenvolvidos, sobretudo naqueles que assinaram o Protocolo de Kyoto, programa internacional que busca reduzir a emissão de gases poluentes na atmosfera.

O próprio álcool combustível brasileiro tem despertado enorme atenção do mercado internacional, que cada vez mais mostra interesse pelos produtos “ecologicamente corretos” ao mesmo tempo que procuram diminuir a dependência de combustíveis oriundos do petróleo, altamente poluidores. No caso do biodiesel, ao descartar o álcool de cana na fórmula de produção, os fabricantes brasileiros também deixam de oferecer ao mundo uma tecnologia exclusiva, diferenciada, já que as demais plantas existentes no mundo só produzem o biocombustível feito com o metanol.

Na fabricação do biodiesel, o álcool – etílico (derivado da cana) ou metílico (do petróleo) – é utilizado apenas como um reagente e, por isso, tem peso relativamente menor na planilha de custo total de produção. “A matéria-prima principal do biodiesel é o óleo vegetal, que responde por cerca de 80% do custo total”, explica o professor Miguel J. Dabdoub, um dos especialistas do setor. O gasto com o reagente entra nos 20% restantes das despesas, que incluem ainda custos administrativos, de refino, entre outros.

No entanto, para Ricardo Dornelles, diretor do departamento de combustíveis renováveis do Ministério de Minas e Energia, num setor de grande escala como o de biodiesel (hoje a produção brasileira é incipiente, mas tende a crescer rapidamente nos próximos anos), qualquer centavo economizado no processo produtivo significa milhões de reais a mais no caixa da empresa. “Nesse segmento de combustíveis, é preciso olhar para terceira, quarta, quinta casa decimal”, avalia.

Segundo Dornelles, a maioria das indústrias brasileiras de biodiesel prefere usar o metanol como reagente porque ele apresenta maior rendimento que o álcool da cana. “Seria preciso utilizar uma quantidade maior de álcool para compensar a sua menor eficiência em relação ao metanol”, explica.

Além disso, dependendo da região onde está localizada a fábrica de biodiesel, o preço do metanol, mesmo o importado, chega a ser inferior ao valor do álcool. Isso porque o álcool destinado para a produção de biodiesel recebe uma alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) de 18%, enquanto o álcool utilizado como combustível é taxado no estado de São Paulo – o maior produtor brasileiro – em 12%.

Já existe atualmente um forte lobby por parte de produtores e usineiros para que haja redução de imposto sobre o álcool entregue nas fábricas de biodiesel. Para isso, é preciso que o reagente seja listado na categoria “para fins combustíveis”, em vez de ser caracterizado como “álcool industrial”, sobre o qual incide o ICMS de 18%.

De acordo com Dornelles, existem hoje apenas três fábricas de metanol no País, número insuficiente para preencher toda a demanda pelo energético. “Com o avanço das fábricas de biodiesel, a procura pelo metanol tende a aumentar”, afirma o diretor.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram que os gastos com a importação de metanol atingiram US$ 67 milhões entre janeiro e setembro deste ano, 31% acima do valor registrado em igual período do ano passado, de US$ 51 milhões. Em volume, as compras externas do produto alcançaram 237,4 mil toneladas até setembro, um aumento de 26% sobre a quantia observada entre janeiro e setembro de 2005.

As aquisições externa de metanol feitas até setembro último já empatam, em valores, com as compras realizadas durante todo o ano de 2005, quando o Brasil desembolsou US$ 67 milhões, com a importação de 251,3 mil toneladas.

Segundo Dornelles, apesar da maioria das fábricas optar hoje pelo uso do metanol, grande parte das plantas previstas para entrar em atividade no País estará adaptada para operar com os dois combustíveis – o metílico e etílico. “A opção por determinado reagente continuará dependendo do fator preço”, afirma o diretor.

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