Mercado

Mercosul discute produção de alimentos e biocombustíveis

Em plena crise alimentícia mundial e em meio ao aumento desenfreado dos preços do petróleo, os países do Mercosul enfrentam o desafio de aproveitar seu potencial para produzir alimentos e energias alternativas como os biocombustíveis.

O bloco conta com 120 milhões de hectares cultivados, com possibilidade de ampliação de outros 100 milhões, e tem 300 milhões de cabeças de gado, quantia equivalente a 25% do total mundial, segundo a Federação de Associações Rurais do Mercosul (Farm).

O Mercosul, que realiza hoje em Tucumán (Argentina) sua 35ª Cúpula de Chefes de Estado, também é responsável por 34% das exportações mundiais de carne de frango, 3% das de carne suína e 10% das de leite.

Cálculos da ONU estimam que em 2030 será necessário aumentar a produção mundial de alimentos em 50% para atender à demanda, e se os países do Mercosul assumirem o desafio de multiplicarem sua produção, estarão diante de uma “oportunidade única”.

“É uma oportunidade que se abre pelo menos para o Brasil, para aumentar sua participação no mercado mundial, e vamos aproveitá-la”, disse recentemente o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que ofereceu aos demais países da região a transferência gratuita de tecnologias para impulsionar a produção de alimentos.

A Argentina é outro grande produtor que pode aproveitar a conjuntura internacional para se consolidar como um dos “celeiros” do mundo se conseguir superar o conflito enfrentado pelo Governo da presidente do país, Cristina Fernández de Kirchner, com os agricultores e que, por mais de cem dias, causou perdas milionárias e um intenso desgaste da chefe de Estado.

Além disso, com os altos preços do petróleo, os membros do Mercosul podem tirar proveito com sua experiência na geração de energias alternativas, como os biocombustíveis, sem afetar a produção de alimentos.

Também neste capítulo, o Brasil lidera a produção e é o único país do mundo a fazer uso generalizado de combustíveis de origem vegetal em sua frota automobilística.

O negócio atrai investimentos superiores a US$ 30 bilhões em novos engenhos de cana-de-açúcar e usinas todos os anos.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou uma campanha diplomática e comercial para transformar o etanol da cana-de-açúcar no combustível do futuro, ao tempo que rechaçou com dureza as acusações de que a produção em massa de biocombustíveis agrava a crise mundial de alimentos.

Para Lula, as críticas ao etanol fazem parte de uma guerra comercial de empresas petrolíferas que podem ter seus interesses afetados, e enfatizou que “o Brasil está disposto a vencer”.

Enquanto isso, a Argentina também aumenta a produção de biodiesel para consolidar uma participação que, segundo analistas, poderia chegar a 6% do mercado mundial em pouco tempo.

Apenas nos quatro primeiros meses do ano, a Argentina exportou 176 mil toneladas de biodiesel, mais do que durante todo o ano de 2007.

Até 2005, as vendas do biodiesel argentino, produzido a base de óleo de soja, eram dirigidas aos países vizinhos, que compravam 70% da produção, mas agora Estados Unidos e Holanda absorvem 97% dessas exportações.

Menor ainda é a produção de etanol argentino, que representa entre 1% e 1,5% da produção mundial, que poderia ser incrementada se a fabricação a partir do milho for estimulada. No entanto, nem todos os países do Mercosul têm a mesma opinião sobre os biocombustíveis.

A Venezuela, assentada em um mar de petróleo, rejeita a produção de biocombustíveis, pois segundo o presidente do país, Hugo Chávez, equivaleria a “alimentar automóveis e não a humanidade”, mas apóia a iniciativa brasileira de utilizar o etanol como aditivo à gasolina e não como substitutivo.

Para aqueles que, como Chávez, estão reticentes, a resposta de Lula é clara: “nenhum ser humano, nenhum Governo deixará de plantar alimentos que enchem seu estômago para poder encher o tanque de um carro. Seria até insano um comportamento desses”, disse recentemente.

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