Mercado

Mandelson tenta dividir países emergentes

Tentar dividir os países em desenvolvimento, para conquistar o apoio dos pobres, foi a tática usada ontem, explicitamente, pelo comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson. É preciso não confundir os interesses dos grandes exportadores agrícolas com os interesses dos países em desenvolvimento, disse o comissário durante um painel promovido pelo Banco Mundial.Tradução: os objetivos de países como o Brasil, nas negociações internacionais de comércio, não servem para os pobres.

A tática não é nova. Quando Brasil, Austrália e Tailândia venceram processo contra os subsídios europeus à exportação de açúcar, Mandelson afirmou que os países pobres da África, do Caribe e do Pacífico, também conhecidos como ABC, seriam prejudicados. A União Européia favorecia esses países na importação de açúcar e reexportava o produto com subvenção.

Mandelson também criticou indiretamente o Brasil e outros países do Grupo dos 20 ao falar sobre as ambições da Rodada Doha de negociações comerciais. A solução para os países em desenvolvimento, segundo o comissário, dependerá da ambição na busca de resultados.

Mas a rodada será menos ambiciosa, acrescentou, se as discussões forem concentradas em agricultura, com menor atenção a outros itens.

Segundo o G-20, que inclui, China, Índia, Argentina e outros emergentes, a agricultura tem de ser o foco da rodada porque esse foi o mandato definido em Doha. O progresso na reforma do comércio agrícola, segundo o grupo, é condição para o progresso nas demais linhas de negociação.

Mandelson completou o esforço de sedução anunciando que a União Européia aumentará dos atuais 400 milhões para 2 bilhões, em 2010, a ajuda relacionada ao comércio internacional. O auxílio se destina à criação de capacidade técnica e administrativa para o desenvolvimento comercial dos países pobres. A Europa não veio a Hong Kong de mãos vazias de ajuda para o comércio, disse o comissário.

Detalhe final: a opinião de Mandelson sobre os interesses dos grandes exportadores agrícolas foi exatamente oposta à do Banco Mundial, apresentada num documento distribuído na mesma sessão.

Segundo o documento, alguns industrializados justificam sua proteção à agricultura argumentando que a abertura de mercado será absorvida por produtores em desenvolvimento grandes e competitivos (como o Brasil) e não pelos países pequenos e pobres.

O documento assinala, em seguida: 1) grandes países em desenvolvimento também têm pobres (20% dos brasileiros vivem com menos de US$ 2 por dia); 2) mesmo que grande parte do novo mercado seja absorvida por grandes produtores em desenvolvimento, a liberalização elevará os preços (com o fim dos subsídios) e os países pobres ganharão com isso.

Os subsídios ao algodão tiram US$ 150 milhões por ano dos países da África Ocidental; 3) países pobres têm vantagem comparativa na agricultura e seu setor agrícola é importante fonte de renda. R.K.

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