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Mandelson não crê em avanço no Rio

Comissário europeu inicia amanhã dois dias de reuniões com Amorim, Portman e Lamy. O comissário do Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, minimizou ontem, em Buenos Aires, as possibilidades de progresso nas conversações sobre comércio global quando se reunir, no final desta semana, com os representantes dos Estados Unidos (EUA) e do Brasil no Rio.

“Não acho que esta reunião produza alguma decisão”, disse Mandelson. “Acredito que será uma oportunidade para entender as divergências existentes entre os principais participantes para ver de que forma podemos estreitar o fosso que nos separa.”

O Brasil é a terceira etapa da viagem de Mandelson na América do Sul, que antes da Argentina passou pelo Chile. O objetivo do comissário com a viagem é formar um consenso entre os países da região para as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC).

No Rio, Mandelson se reunirá durante dois dias com o chanceler brasileiro, Celso Amorim; o representante comercial americano, Robert Portman, e o diretor geral da OMC, Pascal Lamy.

As reuniões ocorrerão na sexta-feira e no sábado, em um momento em que os países membros da OMC correm contra o tempo para fechar as negociações para o desenvolvimento do comércio global da Rodada de Doha, iniciadas em 2001. O prazo para concluir um acordo para a redução das tarifas sobre produtos agrícolas e manufaturados, e um corte significativo nos subsídios à agricultura em cada país, vence dia 30 de abril.

O comissário chegou ontem à noite a São Paulo, onde se encontrou com um pequeno grupo de empresários europeus, segundo o chefe da Delegação da UE no Brasil, João Pacheco. “Foram convidados seis empresários e o objetivo do encontro era ser mais informal”, disse o embaixador a este jornal antes de ir para o jantar.

De acordo com o consultor e presidente do conselho superior de comércio exterior da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Rubens Barbosa, que foi ao jantar representando o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o prato principal do jantar seria a Rodada de Doha. Os empresários brasileiros, segundo ele, estão dispostos a avançar nas negociações e fazer algumas concessões nos segmentos de manufatura e serviços se a UE e os EUA – que ainda é uma incógnita pois a nova lei agrícola ainda vai ser votada no Congresso – também fizerem mais concessões do que as que dizem que estão dispostos a fazer. “As propostas dos países desenvolvidos precisam ser melhoradas”, disse Barbosa, acrescentando que além da questão da tarifação e dos subsídios, é preciso que haja uma redução na lista de produtos sensíveis.

Hoje pela manhã, Mandelson viaja para Ribeirão Preto, no interior paulista, para, entre outros compromissos, visitar uma usina de álcool e almoçar na fazenda do ministro brasileiro da Agricultura, Roberto Rodrigues. À noite, o comissário embarca em um avião para o Rio, onde fica até domingo, quando retornará para a Europa.

O Brasil, maior economia da América do Sul, pressiona a UE para que corte consideravelmente as barreiras agrícolas, enquanto a UE pediu ao Brasil que conceda acesso total a bens industrializados e serviços. Os EUA também receberam críticas de ambos os lados para que se empenhem mais na redução dos subsídios agrícolas. Apesar das críticas, Portman definiu os EUA como um mediador que tenta aproximar ainda mais a UE e o Brasil nas negociações.

Mas, segundo Mandelson, esta visão é equivocada, e pediu a Washington que melhore sua oferta na questão dos subsídios para que as conversações avancem. “Na questão agrícola, os EUA não podem ficar à margem”, afirmou. “Em outubro, eles fizeram uma proposta incompleta para reduzir e disciplinar seus subsídios agrícolas. Este assunto não está encerrado”.

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