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Liderança em álcool pode acabar

A 3ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação terminou ontem em Brasília sob os ecos de um alerta: O Brasil está muito a frente do resto do mundo, mas outros estão se aproximando rapidamente. Será que o Brasil vai continuar a ser líder, ou vai se tornar um seguidor? A questão, lançada a uma platéia repleta de cientistas e autoridades pelo vencedor do Prêmio Nobel de Química de 2000, Alan MacDiarmid, referia-se especificamente ao pioneirismo brasileiro na área de biocombustíveis. Mas ecoou por praticamente todas as mesas e debates que se seguiram até o final do evento.

As palavras do cientista tornaram-se uma bandeira para o tema central da conferência, que é a importância da ciência, tecnologia e inovação (CT&I) para o desenvolvimento social e econômico do país. Não apenas nas áreas de pesquisa que são mais carentes, mas também naquelas em que o Brasil é líder, como álcool e biodiesel. Segundo MacDiarmid – um neozelandês radicado nos Estados Unidos e apaixonado pelo Brasil –, a pesquisa não pode se acomodar. Sem um esforço de desenvolvimento tecnológico, disse ele, o País será ultrapassado em dois a três anos. Há muitas oportunidades, mas o tempo está se esgotando, disse MacDiarmid. Ele está absolutamente certo, disse o presidente da Embrapa, Silvio Crestana. Com o apoio pesado de subsídios, disse, os EUA vêm aumentando consistentemente sua produção de etanol a partir do milho, assim como sua frota de veículos bicombustíveis. Eles vão ficar cada vez melhores, disse Crestana. Acho que ele (MacDiarmid) foi gentil ao falar em apenas três anos. Para que o País mantenha sua liderança, segundo Crestana, é preciso investir em novas tecnologias tanto de produção quanto de conversão de biomassa em energia, para melhor aproveitamento energético. Por exemplo, na criação de novas cultivares de cana, adaptadas a diferentes regiões, e no aproveitamento do bagaço da mamona na produção do biodiesel. Ele mostrou que somos líderes, mas que para continuarmos líderes teremos que trabalhar muito, disse Carlos Aragão, físico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e secretário geral da conferência.

Um dos temas que dominou o evento foi a necessidade de uma maior participação do setor industrial nos esforços de pesquisa e inovação tecnológica. Assim como a formação de mais e melhores pesquisadores pelas universidades para abastecer esse mercado – apesar de o País estar prestes a ultrapassar a marca de 10 mil doutores por ano. Com relação a recursos, os cientistas comemoraram o anúncio pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a reserva de contingenciamento dos Fundos Setoriais será limitada em 40% no próximo ano e reduzida gradualmente a 0%, até 2009. Hoje, mais de R$ 3 bilhões dos fundos estão contingenciados.

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