Mercado

Investimentos se mantêm , apesar da crise política

Os projetos de investimentos das principais empresas instaladas no país estão sendo mantidos, apesar da crise política, da valorização do real em relação ao dólar e de alguma desaceleração dos negócios, observada nas últimas semanas. Essa é a avaliação feita pela maior parte dos empresários que participaram, ontem à noite, em São Paulo, da cerimônia de entrega do prêmio “Empresa de Valor” de 2005, do anuário “Valor 1000”.

Para eles, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi convincente ao rebater denúncias feitas pelo ex-assessor Rogério Buratti, e o comportamento do mercado, ontem, foi a prova disso. Até mesmo em caso de saída de Palocci do ministério, eles acreditam que o compromisso do governo com a política econômica será mantido.

A Natura é uma das empresas que não pretende rever os investimentos programados para este ano, que somam R$ 120 milhões, segundo o presidente da empresa, Alessandro Carlucci. A maior parte do dinheiro, diz, será aplicada em infra-estrutura de distribuição e logística.

A Souza Cruz também manterá os investimentos programados para este ano. De acordo com o presidente Nicandro Durante, a empresa deve investir R$ 100 milhões. “A crise política não nos preocupa, o que nos preocupa é o crescimento econômico do pais”, avalia o executivo. O presidente da Souza Cruz disse que projeta crescimento entre 3% e 4% neste ano. “As exportações devem crescer 9%, embora com lucro menor, por causa da defasagem do câmbio”, disse.

O principal executivo do braço operacional da Semp Toshiba, Sergio Loeb, afirma que a crise política não irá alterar a decisão da empresa de investir no aumento da capacidade de produção. A Copa do Mundo deve aumentar a demanda por televisores em 2006. “Nós vamos começar a avaliação dos nosso investimentos agora. Como esses investimentos têm um prazo de maturação de seis a oito meses, eles precisam ser decididos neste momento”, afirma Loeb.

A utilização da capacidade muito próxima do limite para o setor deve levar a distribuidora de aço Rio Negro, empresa do sistema Usiminas, a investir de US$ 6 milhões a US$ 8 milhões no próximo ano na aquisição de novos equipamentos. “Começamos com um terceiro turno em algumas máquinas e já estamos com 65% a 70% de nossa capacidade em uso. Por isso estamos estudando o investimento”, afirma o presidente da Rio Negro, Carlos Jorge Loureiro. Ele ressalta, que o investimento depende da evolução do câmbio e de como a cotação do dólar vai afetar as vendas da indústria automobilística.

Para Loureiro, a crise política não deverá afetar o investimento previsto. A demanda do setor de bens de consumo, segundo ele, segue razoável, com pouca interferência do cenário político.

O presidente da Pirelli, Giorgio della Setta diz que a empresa não vai interromper o programa de investimentos para este ano, que prevê superar os US$ 100 milhões aplicados em 2004. “As últimas semanas foram mais difíceis, mas temos confiança de que esta crise será passageira”, afirma della Seta.

Já a Fras-le , do grupo Randon, decidiu segurar momentaneamente o investimento na compra de alguns equipamentos, por causa do ambiente negativo criado pela crise política e a valorização do real. Mas isso não significa redução no programa de investimento de R$ 30 milhões previsto para este ano, segundo o presidente do grupo, Raul Randon. Sobre o depoimento de Palocci, Randon disse que foi um “discurso firme e que mostrou que a acusação foi feita sem provas”.

A Vivo não pretende rever nenhum dos investimentos planejados para o segundo semestre por causa da crise política. “Para a Vivo, nada muda”, disse Roberto Lima, presidente da empresa de telefonia celular. “O Brasil é maior do que a crise.” Lima destacou a atuação do ministro Palocci em relação às acusações feitas na semana passada. “Foi uma atitude corajosa, eficiente e clara, que restaurou em parte a confiança de que as instituições serão mantidas.”

Décio da Silva, presidente da Weg, mantém a perspectiva de crescimento de 20% nas vendas deste ano. Investimentos serão feitos para fabricação de novos produtos e expansão de mercado.

Josué Christiano Gomes da Silva, presidente da Coteminas, afirmou que projeção de vendas de produtos têxteis para este ano se mantém em 140 mil toneladas. A maior parte do crescimento é do mercado externo e não do interno. Segundo ele, Palocci é uma figura “ímpar” e “a entrevista dele colocou fim a todas as especulações”.

Para a Sadia, as denúncias feitas ao ministro da Fazenda ainda não produziram efeitos no mercado. “O mercado está recebendo bem o comunicado do ministro. Espero que a crise passe rapidamente e o país retome o crescimento”, afirmou Gilberto Tomazoni, presidente da empresa. A crise política não afetou os planos de investimento da empresa, que neste ano está fazendo aporte próximo a R$ 500 milhões para ampliar a capacidade produtiva de suas 14 fábricas.

O presidente da Aracruz Celulose, Carlos Aguiar, disse não ver sobressaltos no cenário econômico. Ele afirmou que a economia brasileira será beneficiada pela expansão da economia mundial, como o crescimento dos EUA e China.

Stênio Jacob, diretor-presidente da Sanepar, disse não temer eventual saída de Palocci do governo, “porque a política econômica está baseada nos interesses dos grandes grupos financeiros do país e não é a mudança de uma peça do conjunto que vai afetar isso”. Jacob espera que “a crise não afete nossos investimentos. Hoje mesmo encaminhamos pedido de financiamento de R$ 1 bilhão ao BNDES para obras no Paraná”.

José Gregório, diretor-presidente da Mineração Serra Grande, também diz não temer a saída do ministro Palocci, ” porque considero que o Brasil está maduro para suportar a crise”. Para este ano, estão previstos US$ 2 milhões em pesquisas de novas reservas minerais e o número está mantido.

A Maringá, empresa que fabrica ferroligas de manganês, utilizadas no setor siderúrgico, acompanha o desenrolar da crise para bater o martelo sobre um novo investimento: a construção da sexta unidade de produção. A estimativa é que a nova unidade consuma investimento de R$ 50 milhões, diz Paulo Nelson Pereira, presidente da empresa. “Essa situação anormal vai se resolver. Já vivemos outras, o Brasil não vai cair”, disse.

A Usina Batatais, associada da Copersucar, manteve o plano de investimentos, apesar da crise política. “O setor de açúcar e álcool vive ótima fase, com aumento da demanda interna por álcool e alta nos preços do açúcar no exterior. Esses fatores superam possíveis efeitos da crise política”, afirmou Bernardo Biaggi, vice-presidente da empresa.

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