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Inflação pelo IPCA é a menor em oito anos

Sob efeito do recuo do dólar, dos combustíveis e dos alimentos, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) registrou em junho a menor taxa em quase oito anos. A deflação de 0,21% no mês passado foi a mais intensa desde setembro de 1998 (-0,22%), segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em maio, o índice havia subido 0,10%. O IPCA fechou o primeiro semestre com alta de 1,54% -a mais baixa marca desde o início do Plano Real.

Em 12 meses, a taxa se manteve abaixo do centro da meta de inflação do governo (4,5%) para este ano. Ficou em 4,03% -o menor patamar desde junho de 1999.

Para Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, o resultado de junho “consolida um processo de estabilização dos preços” visto nos últimos meses cujo determinante é o câmbio, com impacto direto sobre os alimentos e indireto sobre as tarifas públicas, que sobem menos neste ano graças ao recuo dos índices de inflação em 2005. “Estamos numa fase de desindexação. E o dólar baixo tem sido o principal instrumento para conter a inflação.”

O resultado surpreendeu analistas, que projetavam deflação de 0,10% em junho, segundo pesquisa feita pelo BC.

“No começo do ano, nem os mais otimistas esperavam taxa tão baixa no semestre. E todos os sinais são de que a inflação se manterá muito bem comportada”, avalia Alexandre SantAnna, economista da ARX Capital.

O economista revisou sua previsão para a taxa Selic de 14,5% para 14% ao final do ano -hoje, está em 15,25%. Neste mês, “o juro deve cair 0,5 ponto percentual”, estima SantAnna.

Diferentemente de 1998, o economista ressalta que a inflação está em baixa sem retração do nível de atividade econômica e do consumo, num ambiente de aumento da renda e dos investimentos.

Queda generalizada

Para Andréia Parente Lameiras, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), os dados de junho revelam “uma mudança no perfil” da inflação, com o país “deixando para trás uma cultura inflacionária”.

Sinal disso é o fato de os serviços (cabeleireiro, consertos e outros) não terem subido, apesar do reajuste do salário mínimo, que geralmente baliza esses preços.

Já Solange Srour, economista-chefe da gestora de recursos Mellon, disse que o “choque dos alimentos”, que puxou os preços para baixo, é “transitório”. Ainda assim, ela afirma que, em junho, “houve queda generalizada” dos preços e diminuição das previsões futuras de inflação, o que reduz a “inércia” nos próximos meses -ou seja, o poder da inflação se realimentar baseada na expectativa de novos aumentos.

Em junho, a queda dos preços dos combustíveis -de 8,77% do álcool e de 1,60% da gasolina- e dos alimentos (0,61%) explica a maior parte da deflação.

Somente os combustíveis contribuíram com menos 0,18% para a taxa do mês, com a safra da cana-de-açúcar e a redução do consumo de álcool.

Além do câmbio, clima favorável para alimentos “in natura” (frutas, verduras, legumes) e a grande oferta da safra agrícola deste ano também seguraram os preços dos alimentos.

Para este mês, especialistas esperam um IPCA de 0,10% a 0,20%. A boa notícia é a redução das tarifas de energia elétrica em São Paulo (1,91%) e de telefonia fixa (de 0,38% a 0,51%), que deverão conter o índice de inflação deste mês.

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