Mercado

Importações continuarão necessárias

O Brasil vai continuar precisando importar gás natural no futuro, apesar da elevação da oferta nacional prevista a partir da entrada em operação de novos pólos produtores, de acordo com relatório divulgado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. “A perspectiva de aumento de consumo mantém a necessidade de importação no médio e longo prazos, tanto para o Sul-Sudeste como para o Nordeste”, diz o texto.

Na avaliação da EPE, a Bolívia, hoje responsável por 50% do abastecimento interno de gás, continuará sendo, no futuro, o principal fornecedor ao País, mas há possibilidade de o Brasil importar o combustível também da Venezuela, Peru, Trinidad & Tobago e Argélia.

Para Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE, as incertezas em relação ao fornecimento de gás boliviano, geradas sobretudo a partir da posse do presidente Evo Morales, em dezembro de 2005, não irão frear o crescimento do setor no Brasil. “Haverá entendimento entre os governos dos dois países e conseguiremos ampliar as importações por meio do Gasbol”, afirma Tolmasquim, referindo-se ao gasoduto Bolívia-Brasil, de 3,150 mil quilômetros de extensão e que entrou em operação a partir de 1999.

Atualmente, o Brasil importa 27 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia da Bolívia, país que no ano passado adotou novas leis que elevaram os royalties pagos ao governo boliviano para produção de hidrocarbonetos e aumentou os impostos sobre o setor.

Pelas previsões da Petrobras, porém, a entrada em vigor dos novos pólos no País, além dos investimentos realizados nos campos já existentes, reduzirá a dependência do gás boliviano nos próximos anos, caindo dos atuais 50% para cerca de 30%.

Para a bacia de Santos são esperados a entrada em operação, entre 2008 e 2010, de importantes pólos de gás e petróleo, como o de Mexilhão, no litoral paulista, com capacidade para produzir até 15 milhões de metros cúbicos/dia. Além dele, a bacia conta com os campos BS-500 (que deverá produzir 20 milhões de metros cúbicos/dia), Merluza (com potencial para atingir até 10 milhões de metros cúbicos de gás/dia), Sul (produção futura estimada de 3 milhões de metros cúbicos de gás diariamente) e Centro (ainda em fase exploratória).

Escassez no curto prazo

Tolmasquim admite, entretanto, que o mercado de gás brasileiro tende a enfrentar problemas no curto prazo, em função da escassez de oferta de produto nacional. “Há um certo gargalo no setor, mas ele vem sendo contornado com algumas medidas emergenciais”, diz ele, que cita como exemplo a transformação para o sistema bicombustível de sete usinas térmicas da Petrobras que hoje funcionam unicamente com o gás e, juntas, têm capacidade total para 14 milhões de metros cúbicos por dia. “Com as conversões, essas térmicas passarão a funcionar tanto com gás quanto com óleo diesel, se necessário”, explica. “No futuro, grande parte do abastecimento interno estará garantida com entrada em operação dos novos pólos”.

Além da bacia de Santos, existem outros projetos espalhados pelo País que irão incrementar a produção local de gás, como os previstos para a bacia de Campos, em especial nos pólos de Barracuda, Caratinga, Albacora Leste e Marlin Leste. No Espírito Santo, destaque para operação do projeto off-shore (em mar) Peroá-Cangoá, do campo de Golfinho, que prevê elevar a produção na Bacia em 10 milhões de metros cúbicos/dia a partir de 2007.

Também existem projetos para elevar a capacidade de processamento de gás no Nordeste, como o de Manati, na Bahia, previsto para entrar em produção entre 2008 e 2009 e que receberá investimentos de R$ 1,2 bilhão. O pólo fará dobrar a oferta baiana, hoje em 6 milhões de metros cúbicos/dia, tornando o estado auto-suficiente na produção.

No entanto, a construção do Gasoduto Sudeste-Nordeste (Gasene), que ligará as malhas Sudeste e Nordeste, é considerado pela Petrobras o principal projeto de abastecimento de gás para a região Nordeste, embora a empresa admita que faz estudos sobre o potencial econômico da utilização de Gás Natural Liqüefeito (GNL) de forma complementar na região. Previsto para entrar em operação em 2008, o Gasene terá capacidade para 20 milhões de metros cúbicos por dia. As obras deste gasoduto, porém, começaram no Espírito Santo, no trecho Cacimbas à Vitória, mas o início dos trabalhos no trecho Cacimbas-Catu, que vai interligar o Sudeste ao Nordeste, ainda depende do licenciamento ambiental. Quando concluído, o Nordeste receberá o gás do Norte do Espírito Santo e também da bacia de Santos. Outra obra de destaque da Petrobras é o gasoduto Urucu-Coari-Manaus, que transportará o gás da província petrolífera de Urucu, localizada em Coari (AM). até a cidade de Manaus. Terá a extensão total de 725 quilômetros e investimentos previstos de US$ 410 milhões. A conclusão dessa obra está prevista para 2008.

Além dos projetos para ampliação da malha interna de gasodutos, o governo brasileiro aposta no “Gasoduto do Sul”, projeto que prevê o transporte de gás desde a Venezuela para a Argentina, passando pelo Brasil. A obra, que terá 9,283 mil quilômetros para levar gás desde Puerto Ordaz, na Venezuela, até Buenos Aires, tem custo estimado em US$ 23,27 bilhões.

kicker: Responsável por 50% do abastecimento interno de gás natural, a Bolívia deve se manter como o principal fornecedor ao Brasil

Banner Revistas Mobile