Mercado

Importação de álcool assombra visita de Dilma aos EUA

O diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio Pádua Rodrigues, diz que o Brasil ainda carece de uma política específica para o setor. Nos Estados Unidos, lembra ele, o governo estabeleceu metas para o mercado interno e criou uma definição ambiental para o produto como combustível avançado. “O Brasil pode apoiar, e muito, o desenvolvimento da oferta. Tem conhecimento na parte agrícola e na parte industrial. O mercado vai se moldar a partir das definições das políticas públicas. Combustível é uma questão de país”, argumenta.

A definição de um modelo de preços do combustível é outro ponto importante para incentivar os investimentos no setor, de acordo com o secretário-geral da Federação dos Químicos de São Paulo, Edson Dias Bicalho, que representa os trabalhadores das usinas de etanol. Segundo ele, os produtores hoje sofrem porque não conseguem competir com o preço subsidiado da gasolina. “A maior dificuldade é concorrer com a gasolina. O etanol não tem nenhum subsídio, mesmo sendo menos poluente. O custo de produção do combustível fica em torno de R$ 1,20 a R$ 1,30”, afirma.

Segundo Pádua, da Unica, as usinas que processam cana-de-açúcar no Brasil têm uma capacidade instalada hoje muito maior que a oferta. As usinas brasileiras, explica, poderiam estar operando cerca de 150 milhões de toneladas a mais por ano, caso houvesse oferta. Esse potencial só se recupera no médio prazo, já que os investimentos na recuperação do canavial demoram cerca de cinco anos.

Não obstante as dificuldades de produção, tanto Brasil quanto Estados Unidos devem avançar para transformar o etanol numa commodity, na opinião de José Augusto Fernandes, diretor de políticas e estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para ele, ambos os países devem tr abalhar juntos para abrir mercados para o combustível e elevar os investimentos no setor.

O encontro entre os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama que ocorre entre 9 e 11 de abril, nos EUA, deve trazer à tona a aliança estratégica estabelecida cinco anos antes pelos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush para a produção de etanol. Àquela época, o governo brasileiro lutava para conquistar o mercado norte-americano. Hoje, é o etanol dos EUA que entra no país para compensar a baixa produtividade da safra brasileira, fruto de intempéries e da descontinuidade de investimentos.

Um estudo do professor Marcos Fava Neves, da FEA/USP de Ribeirão Preto (SP), mostra que o país precisaria construir ao menos 120 usinas, com investimentos de US$ 95 bilhões, para atender à demanda do mercado interno até 2020.

O Brasil começou o ano com um déficit na balança comercial do etanol. Entre janeiro e fevereiro, importou 277,6 mil litros e exportou 170,1 mil litr os do combustível. Isso ocorreu justamente nos primeiros meses em que o comércio entre os dois países ficou livre da barreira ao etanol brasileiro nos Estados Unidos, que vigorou por 30 anos. O déficit deve ser um dos assuntos tratados por Dilma no encontro com Obama.

“O etanol deve ser tratado dentro da política de combustíveis renováveis dos países. O Brasil está pronto para discutir a questão do etanol como commodity, e uma das prioridades é o déficit entre os países”, diz Celia Feldpausch, diretora-executiva do Brazil Industries Coalition (BIC), entidade que representa os interesses do setor privado brasileiro no Congresso americano.

No ano passado foram os norte-americanos que venderam 1,1 bilhão de litros do combustível para o Brasil, uma situação impensável à época do encontro entre Lula e Bush. “Seria melhor que a presidente Dilma nem tocasse no assunto do etanol, para não passar vergonha”, diz Neves.

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