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Guerra pode ajudar na volta do Proálcool

Empresários de Pernambuco vão a Brasília pedir que programa seja incluído no plano energético do governo federal. A iminência de uma guerra entre Estados Unidos e Iraque anima o Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar), que vê no conflito a oportunidade de retomada do Programa Brasileiro do Álcool (Proálcool), devido aos reflexos que o confronto terá sobre a produção e os preços internacionais do petróleo e derivados.

A entidade se reúne na quinta-feira em Brasília com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, para pleitear que o programa seja incluído no plano de contingenciamento energético que está sendo delineado pelo governo Lula.

O Proálcool, criado em 1974, foi progressivamente extinto nos anos 80. No auge do programa, o parque alcooleiro nacional chegou a operar com 100% da capacidade. De acordo com o presidente do Sindaçúcar, Renato Cunha, a reativação este ano teria efeito imediato sobre o setor sucro-alcooleiro, elevando a produção de álcool anidro (usado na mistura com a gasolina) e hidratado carburante (combustível) entre 1 bilhão e 1,5 bilhão de litros em relação a 2002.

No ano passado, foram produzidos no País 12,6 bilhões de litros (11,1 bilhões no Sudeste, Centro-Oeste e Sul e 1,5 bilhão no Nordeste), 50% de cada tipo. Mesmo com a elevação, os produtores ainda estariam com folga em relação à capacidade do parque, de 16 bilhões de litros/ano.

Pernambuco, que tem 29 usinas açucareiras e destilarias e 400 mil hectares plantados de cana, é o segundo maior produtor de álcool do Nordeste, com uma participação entre 25% e 30%. Na safra do setor canavieiro 2002/2003, que está 96% concluída, é contabilizada até o momento a moagem de 14,2 milhões de toneladas e a produção de 1,19 milhão de toneladas de açúcar, números estáveis em relação à colheita anterior. Já o volume de álcool cresceu 6%, somando 283 mil m³, sendo 154 mil m³ de anidro e 129 mil de hidratado carburante.

Reativação permanente

“Registramos incremento apesar da ausência de planejamento do Governo Federal para o setor e da incerteza nas vendas. Isso significa que podemos crescer ainda mais com o Proálcool”, afirma Renato Cunha, argumentando que o programa deve ser reativado não como solução paliativa para uma crise do petróleo, mas de forma permanente. “Temos tecnologia para produção de energia barata e não poluente.”

Um dos pontos que o Sindaçúcar sugere é o cumprimento do dispositivo legal que obriga o Governo Federal a planejar e executar planos anuais de estoques de álcool anidro e hidratado, a partir de investimentos com recursos da Contribuição Sobre Intervenção de Domínio Econômico (Cide). Outro ponto é que as distribuidoras de combustíveis também sejam obrigadas a formar estoques do produto. O objetivo é reverter a situação atual, em que as destilarias são obrigadas a vender no mercado spot.

“Não temos qualquer garantia de escoamento da produção através de contratos. Daí a necessidade dos estoques obrigatórios, que alavancariam substancialmente um setor que deveria ser encarado como estratégico para o País”, sustenta Cunha, ressaltando a volta do interesse das montadoras e dos consumidores pelos veículos a álcool. No ano passado, foram comercializados no Brasil 56 mil veículos a álcool, 3,14% da produção total do setor automobilístico no País e o triplo dos 18,3 mil contabilizados em 2001.

Entre os fabricantes, um dos que mais vem apostando no filão é a Volkswagen que, até junho próximo estará lançando o Gol bi-combustível (movido a álcool e gasolina). A frota atual de carros a álcool é de 2,4 milhões de veículos. (Gazeta Mercantil)

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