Mercado

Grupo Dreyfus fica com 60% da Santelisa Vale

O controle acionário do segundo maior grupo sucroalcooleiro do País, a Santelisa Vale, passou ontem oficialmente para as mãos da multinacional francesa Louis Dreyfus Commodities (LDC). Na assembleia realizada em Sertãozinho (SP), acionistas da Santelisa aprovaram a associação à LDC, que passará a ter 60% da companhia capaz de processar mais de 20 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra, em suas cinco unidades no Estado de São Paulo. O acordo cria a segunda maior companhia mundial de açúcar, etanol e bioenergia, com capacidade de moagem de 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano.

Não houve transação financeira, mas a LDC assumirá um passivo da Santelisa estimado em R$ 2,2 bilhões e ainda trará um investidor para investir R$ 400 milhões na nova empre! sa, que será chamada provisoriamente de LDC SEV Bioenergia. O nome do novo investidor não foi divulgado, mas, segundo fontes, deve ser alguém ligado à própria LDC – provavelmente um fundo ligado aos acionistas da família Dreyfys, controladora do grupo.

A assembleia definiu ainda que os atuais acionistas da Santelisa Vale – liderados pelas famílias Biagi, Junqueira Franco e pelo banco Goldman Sachs – ficarão com 17% da empresa, o fundo de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDESPar), também sócio, terá 1%, e os quatro maiores bancos credores (Bradesco, Itaú, Santander e Votorantim) ficarão com 15% da companhia. Essas instituições financeiras tiveram seus créditos convertidos em ações, que voltarão para as mãos dos sócios caso a amortização ocorra num período de 15 anos, com quatro de carência.

Os porcentuais que cabem aos sócios da nova empresa podem variar apenas caso haja alguma decisão futura sobre passivos anteriores à data da ass! ociação. Já com os credores financeiros considerados pequenos não houve acordo e todos terão de renegociar o passivo caso a caso, ou mesmo executarem suas dívidas.

A assembleia ratificou ainda que o executivo Bruno Melcher, que já comandava informalmente a companhia, permanecerá como o presidente-executivo da LDC SEV Bioenergia, e que o conselho da nova empresa terá seis cadeiras para a LDC, duas para os atuais acionistas e uma para os bancos. O único impasse do encontro foi a discussão sobre os futuros de ativos da Crystalsev, trading comandada pela Santelisa Vale e que deverá ser extinta, já que a LDC tem um braço responsável pelo comércio internacional de commodities.

Apesar de a operação ser tratada como uma associação, o clima entre os atuais sócios e entre os conselheiros da Santelisa Vale era de incorporação pela LDC, que tem oito usinas no País comandadas pela LDC Bioenergia. “É triste falar isso, mas no fundo foi uma incorporação, que só não ocorreu por questõe! s tributárias, já que é mais fácil uma empresa com maior prejuízo comandar a operação”, disse um conselheiro ouvido pela Agência Estado. “A criação de uma empresa independente a partir da Santelisa foi mais interessante.”

NEGOCIAÇÕES

A definição da entrada da LDC como sócia da Santelisa Vale marca também o fracasso da sociedade entre dois dos mais tradicionais grupos sucroalcooleiros doPaís. No início de 2007, após a tentativa do Grupo Cosan de comprar a Companhia Açucareira Vale do Rosário, com sede em Morro Agudo (SP), os então acionistas da empresa aprovaram a fusão com a Companhia Energética Santa Elisa. Com a ajuda do Bradesco, as famílias Junqueira e Biagi obtiveram um empréstimo de R$ 1 bilhão, exerceram o direito de compra da parte dos outros acionistas da Vale do Rosário, venceram a Cosan e formaram a Santelisa Vale.

À época, o negócio levantou dúvidas se o custo para evitar o crescimento da Cosan teria valido a pena para as duas famílias da região de Ribeirão Preto. Em meados de 2007, o empresário Rubens Ometto, então presidente da Cosan, declarou que “graças à Deus” não tinha levado a Vale do Rosário, já antevendo o futuro.

Junto com a Santelisa Vale surgiram os planos de expansão, baseado em um processo de abertura de capital que iria injetar dinheiro na empresa, altamente endividada. O projeto foi adiado e a crise mundial de liquidez de 2008 afundou o grupo. A dívida superou os R$ 3 bilhões, ajudada por operações fracassadas com derivativos cambiais. As famílias Biagi e Junqueira foram obrigadas a ceder parte do sonho de ser uma das maiores empresas do setor à LDC, negócio que foi firmado em abril e ratificado ontem.

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