Mercado

Governo dará financiamento a usineiro

O governo vai oferecer aos usineiros uma linha de financiamento de R$ 1 bilhão em troca da fixação do preço médio do álcool no atacado em R$ 1 — mais especificamente, R$ 0,95 o tipo hidratado (que abastece os carros bicombustíveis, cuja demanda está aquecida) e R$ 1,05 o anidro (que é misturado à gasolina). A proposta, que pretende conter a escalada dos preços, será apresentada hoje, em reunião no Ministério da Agricultura. Segundo fontes que fecharam os detalhes da oferta do governo aos produtores, o dinheiro serviria para garantir um preço mínimo na safra e a formação de estoques fora da colheita.

Na semana passada, o preço médio do anidro caiu de R$ 1,10 para R$ 1,08, mas o do hidratado subiu de R$ 1 para R$ 1,03. Segundo fontes, a queda nos preços dos combustíveis é um objetivo do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006, ano eleitoral.

Os recursos para os empréstimos virão da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), com taxas de juros em torno de 11,5% ao ano. Segundo os técnicos envolvidos nas negociações, essa é a principal proposta do governo a ser levada à mesa de negociações com o setor privado.

Em 2005, o Conselho Interministerial do Açúcar e do Álcool (Cima) aprovou R$ 500 milhões em financiamento ao setor, mas o Conselho Monetário Nacional (CMN) vetou a liberação dos recursos. Como conseqüência, o governo perdeu o controle do volume de álcool estocado, o que se agravou com a entressafra e a demanda crescente pelo hidratado devido ao sucesso dos carros flex — por mês entram no mercado cerca de 100 mil veículos dessa categoria.

Integrantes do governo afirmam estar confiantes que será fechado um acordo formal e, por isso, já descartam reduzir a mistura de anidro da gasolina de 25% para 20%. Embora a medida faça parte de um conjunto de propostas que os ministros Roberto Rodrigues (Agricultura), Antonio Palocci (Fazenda) e Dilma Rousseff (Casa Civil) vão guardar na manga durante a conversa para conter a elevação dos preço, eles reconhecem que a medida pode trazer repercussões negativas, sobretudo no mercado internacional.

Impacto dos preços já aparecem na inflação

Isso porque o Brasil está de olho na frota de carros do Japão e quer vender ao país álcool anidro. A estimativa é exportar 1,8 bilhão de litros por ano, com projeções que podem chegar a seis bilhões. Além do Japão, existem outros mercados, como Venezuela e Nigéria. Em 2005, o Brasil exportou 2,5 bilhões de litros álcool, para diversos fins.

Os reajustes nos preços do álcool já refletem na inflação. O Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), da Fundação Getulio Vargas (FGV) captou um aumento de 6,24% no álcool, no Rio, nos 30 dias encerrados em 7 de janeiro. É quase o dobro da variação constatada na inflação do Rio uma semana antes, quando o álcool havia subido 3,25%.

Por causa disso, a gasolina — que tem 25% de álcool em sua mistura — subiu 0,98% no IPC-S de 7 de janeiro, contra 0,38% na inflação do período anterior. Os dois itens tiveram peso de 0,05 na inflação do Rio, que foi de 1,18% agora, contra 0,93% nos 30 dias encerrados em 31 de dezembro. Mas a maior pressão veio dos preços dos alimentos, que responderam por 62% da inflação no período.

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