Mercado

Fluxo comercial ainda é considerado baixo

A maior abertura da economia contribui para ampliar a competitividade das empresas e melhorar o bem-estar social. A redução das tarifas de importação também seria uma medida importante para o apoio no controle da inflação, que tem sido baseado unicamente em política monetária tendo a taxa de juros como único instrumento, segundo avaliação do presidente da Consultoria Macroanálise e ex-diretor do Banco Central, Alberto Furuguem.

Outro ponto positivo apontado por Furuguem é a condução do real a um patamar menos valorizado e mais sustentável no longo prazo. “Uma moeda desvalorizada ajudaria a compensar nossas dificuldades de competição internacional no curto prazo. Com o dólar a R$ 2,20, a manutenção dos cortes na Selic e uma desvalorização cambial entre 20% e 30% só faria bem à economia brasileira”, afirma o ex-diretor do BC.

Mas, independentemente de uma possível redução tarifária, a abertura econômica pode e deve continuar. Esse é o outro lado da moeda que depende da maior participação do fluxo de comércio exterior no Produto Interno Bruto (PIB).

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) mostram que, apesar de crescente, a participação da corrente comercial – exportações somadas às importações – no PIB foi de apenas 29% no ano passado.

“Com isso, o Brasil é a quinta economia mais fechada do mundo”, diz José Márcio Camargo, sócio da Tendências Consultoria Integrada.

Fernanda De Nigro, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), concorda, ressaltando que em comparação com outras economias emergentes e a conjuntura externa atual há sinais claros de que o Brasil tem como ampliar seu fluxo comercial.

Camargo complementa dizendo que o Brasil deveria ser tão agressivo em relação a sua abertura econômica como foi com a condução da política monetária, que garantiu o recuo do nível de inflação de 40% ao mês para 3,7% ao ano, em um período de 12 anos. Para ele, a corrente de comércio ainda está aquém do necessário para ajudar a economia.

De fato, quanto maior o grau de abertura, maior o equilíbrio entre vendas e compras externas e melhor a dinâmica econômica. A análise de Camargo é que um volume maior importações traz bem-estar para toda a sociedade: Por um lado, as empresas podem se beneficiar comprando bens de capital com tecnologia mais avançada de outros países e, conseqüentemente, aprimorar seu parque industrial e obter maior competitividade. Por outro, diz o sócio da Tendências, a população consegue ter variedade e barateamento de produtos no mercado doméstico.

No entanto, a economista do Ipea faz uma ressalva ao dizer que não é possível fazer uma análise estática da situação. Segundo Fernanda, se por um lado a redução das tarifas podem interferir na queda do preço dos produtos no mercado interno, por outro, pode haver impacto no setor produtivo a ponto de levar ao desemprego. “E isso não seria bem-estar”, diz.

Camargo ressalta que, com o aumento das importações, deixa-se de gerar empregos no setor automotivo, por exemplo, mas cria-se em outros setores. “Prova disso, é que a taxa de desemprego norte-americana é de 4,5%”, afirma, lembrando que os Estadis Unidos conseguiram crescer recentemente sem gerar grandes pressões inflacionárias porque começaram a comprar muito da China, que vende produtos baratos, o que reduziu o preço no seu mercado interno.

Para a economista-chefe do banco ABN Amro Real, Zeina Latif, o grau de abertura está muito relacionado às políticas governamentais. “Mas, nesse aspecto não há nada muito claro nas agendas no horizonte próximo. Talvez isso ganhe relevo daqui por diante em um ambiente pós-eleitoral e seja possível discutir mais a fundo essa abertura econômica “. A economista diz concordar com o reduzido percentual da corrente de comércio sobre o PIB e apresenta dados do Banco Mundial para fazer a comparação: em 2004, a soma das exportações com as importações de bens e serviços do Brasil foi apenas 31% enquanto no Chile chegaram a 66% do PIB e no México a 62% do produto. “Pegando os países vizinhos, que são casos bem-sucedidos de abertura comercial, podemos ver que estamos muito aquém do que seria o ideal”.

Para importar mais

Para ampliar o percentual de abertura, Camargo defende a redução das tarifas de importação, que hoje variam entre 0% e a máxima de 35%, vigorando uma tarifa média de 10,7%. “O ideal é a menor variância possível”, diz, ressaltando que desta forma estão sendo protegidos os setores menos competitivos, a minoria, em detrimento dos que investiram e estão preparados para competir internacionalmente.

Albert Fishlow, diretor do Center for Brazilian Studies e professor da Universidade de Columbia, faz coro e complementa dizendo que a redução de tarifas – em especial dos setores de bens intermediários e de capital – contribuiria, inclusive, para elevar a taxa de investimento do setor privado a um custo bem menor do que o atual. “O setor privado verá que vale a pena comprar bens de investimento fora do País, o que é necessário para estimular o crescimento econômico”.

Fishlow ressaltou ainda que, com maior nível de compras do exterior, a taxa de câmbio pode voltar a depreciar. “O Brasil precisa importar mais e reduzir seu superávit comercial e em conta-corrente, pois, está financiando os Estados Unidos. Muito obrigado”, brincou.

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