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Fim das queimadas

A QUEIMA da cana-de-açúcar é uma técnica agrícola que está com os dias contados. Além de muito poluente, ela pressupõe a colheita manual, que é bem menos eficaz do que sua congênere mecanizada.

Diante desse quadro, é oportuno o protocolo firmado anteontem entre a Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), o governador de São Paulo, José Serra, e as secretarias estaduais do Meio Ambiente e de Agricultura e Abastecimento para antecipar o fim das queimadas.

Pelo acordo, o prazo para acabar com elas passa de 2021 para 2014 nas áreas mecanizáveis e de 2031 para 2017 nas terras em aclive. Por ora, a adesão ao protocolo é voluntária, mas o governo pretende transformá-lo num projeto de lei e enviá-lo à Assembléia. Se for aprovado, ele vai substituir a lei nº 11.241, que fixa os atuais prazos.

Há dois principais empecilhos à antecipação das datas. Em primeiro lugar estão as dificuldades para avançar mais rapidamente com a mecanização da colheita. Faltam máquinas e o custo para adquiri-las não é baixo, em especial para os produtores que ainda estão dando início ao processo de automação.

Em segundo vem a pressão de sindicatos. Por razões óbvias, eles querem manter os empregos pelo maior tempo possível. Não há dúvida de que a eliminação de postos de trabalho na colheita tem forte impacto social. Mas é forçoso reconhecer que estas são vagas de baixa qualidade -temporárias e mal-remuneradas- e que estão sendo mantidas a um alto custo em termos de poluição e perda de produtividade. Faria mais sentido tentar requalificar os bóias-frias para desempenharem outras funções na economia do etanol. É claro que é mais fácil falar do que fazer.

No mais, é moralmente difícil defender a manutenção de um regime de trabalho que, como mostrou reportagem recente desta Folha, sujeita os cortadores a uma vida útil comparável à dos escravos.

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