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Fiesp vê no biometano caminho para a descarbonização da indústria

O biometano gerado pelas usinas de cana possibilita a conexão das áreas com demanda às produtoras

Fiesp vê no biometano caminho para a descarbonização da indústria

O Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vê no biometano um caminho de oportunidades para a descarbonização das indústrias.

Para dar a dimensão do potencial do biogás, as 311 milhões de toneladas de cana moída no estado de São Paulo (safra 2022/2023) podem se converter em um total entre 42 milhões de m3/dia e 50 milhões de m3/dia de biogás e entre 20 milhões de m3/dia a 35 milhões de m3/dia de biometano.

E ainda há espaço para ganhos de produtividade de conversão com as novas tecnologias de equipamentos.

O potencial de produção está concentrado nas áreas Norte e Oeste do estado, enquanto a demanda potencial, pelas indústrias petroquímica, química, fertilizante, vidro, cimento, cerâmica, metalurgia/siderurgia, têxtil e celulose, se encontra a Leste do estado. Portanto, é preciso alinhar oferta e demanda, o que implica também investimento no setor de infraestrutura, superando esse descasamento espacial.

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Estudo da Fiesp indica que são necessários 1.213 km de gasodutos para conectar os principais pontos potenciais de biogás às redes de distribuição mais próximas, com investimento estimado de R$ 2,3 bilhões. O estudo aponta a existência de complexidades regulatórias cujo arcabouço precisa de ajuste.

Com infraestrutura de conexão, regulação adequada e linhas apropriadas de financiamento verde – com prazo e juros adequados – será possível viabilizar projetos de biometano com preços competitivos para a indústria. Vale ressaltar ainda que se trata de energia renovável.

Ele pede atenção à velocidade de adaptação, pois é mais rápido construir uma planta produtora de biometano do que um gasoduto. Outro fator apontado, em termos de política pública, é que o biometano pode ter seu volume adensado com a inclusão de aterros sanitários.

Segundo a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), atualmente existem 811 plantas de biogás, 755 delas em operação, 102 novas desde 2021 e, em São Paulo, 46 plantas com produção de 1,7 milhão de m3 dia que fazem o aproveitamento econômico e produção crescente de biometano.

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João Paulo Capobianco (Foto Karim Kahn – Fiesp)

Até 2029, há a previsão de entrada em funcionamento de mais 21 novas usinas de biometano no estado, concentradas em Paulínia, Piracicaba, Caieiras, Guarulhos, Olímpia, Várzea Paulista e Elias Fausto.

Com potencial de quase 200 mil m3 dia, nos próximos anos poderá alcançar 2 milhões de m3 dia. A demanda de investimentos para a infraestrutura de escoamento é da ordem de R$ 2 bilhões.

De acordo com a Abiogás o biometano é matéria orgânica em decomposição com produção constante, diferente do gás natural que precisa ser extraído, e sua utilização evita emissões de gases de efeito estufa e particulados contribuindo para a descarbonização da indústria. Ele é aproveitado por setores-chave, integra a Economia Circular e possibilita a flexibilidade no uso entre energia elétrica e biocombustível.

Outra vantagem é o fato de áreas de tratamento de esgoto estarem próximas aos centros urbanos, segundo ele, além de 100% da tecnologia do gás natural e do biometano já estar consolidada.

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Em recente reunião do Conselho Superior de Desenvolvimento Sustentável (Condes) da Fiesp,o secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, João Paulo Capobianco destacou a importância da participação das indústrias.

“O enfrentamento à mudança do clima é um dos maiores desafios da humanidade”, disse Capobianco, para quem a indústria é um importante player neste cenário e a interlocução entre governo e setor empresarial, essencial.

Fabio Barbosa, presidente do Condes, lembrou que hoje o sistema financeiro tem compromisso com o portfólio de sustentabilidade, especialmente com o escopo 3, ou seja, as emissões pelas quais a empresa é indiretamente responsável.

“A questão da sustentabilidade é transversal” disse, e como “existem muitas restrições também existem muitas oportunidades”, completou, ao tratar do engajamento da indústria no tema e o necessário financiamento para se realizar a transição energética.

Nessa agenda, a Abiogás defende forte estrutura de certificação, simplificação do licenciamento ambiental, estabelecimento de corredores sustentáveis, uso do biometano no transporte público e privado, marco regulatório, aperfeiçoamento do programa Paulista do biogás e atenção às cargas tributárias tanto na produção como no consumo.

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