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Fidel usa filme brasileiro para lançar novo ataque a etanol

A realidade mostrada num documentário brasileiro sobre as condições de trabalho nos canaviais é o mais novo argumento do presidente cubano, Fidel Castro, na sua ofensiva contra a indústria do etanol.

Fidel dedica três quartos de um artigo que escreveu no jornal oficial cubano Gramma, publicado nesta terça-feira, a uma síntese que faz do que acredita ser a “essência” da mensagem que a diretora Maria Luisa Mendonça quis passar no documentário Bagaço (2006).

A produção foi exibida em Cuba durante o 6º Encontro Hemisférico de Luta contra os Tratados de Livre Comércio e pela Integração dos Povos, no início de maio, em Havana.

“É preciso desmistificar a propaganda sobre os supostos benefícios dos agrocombustíveis. No caso do etanol, a cultura e processamento da cana-de-açúcar contaminam os solos e as fontes de água potável, porque utilizam uma grande quantidade de produtos químicos”, afirmou Fidel, que já criticou o biocombustível brasileiro em outros editoriais do Gramma.

O presidente, afastado do cargo desde julho do ano passado por motivos de saúde, diz que o processo de destilação do etanol produz um resíduo denominado vinhoto que “contamina rios e fontes de águas subterrâneas”. Segundo ele, apenas “uma parte” pode ser aproveitada como fertilizante.

Mas o aspecto social é mais ressaltado por Fidel, que descreve as condições supostamente precárias e insalubres às quais os cortadores de cana são submetidos.

“Trabalham sem um registro formal, sem equipamentos de proteção, sem água ou alimentação adequada, sem acesso aos banheiros e com habitações muito precárias; além disso, eles têm que pagar pela habitação, pela comida, que é muito cara, e precisam pagar por equipamentos como botas e facões e, claro, no caso de acidentes de trabalho, que são muitíssimos, não recebem o tratamento adequado”, escreve Fidel, que também reproduz relatos de vários canavieiros entrevistados no documentário.

História pessoal

No final do artigo, o presidente cubano relata que ele mesmo nasceu num “latifúndio canavieiro, de propriedade privada, cercado ao norte, leste e oeste por grandes extensões de terra” de multinacionais dos Estados Unidos.

“O corte era manual, em cana verde, nessa altura não se usavam herbicidas, nem sequer fertilizantes. Uma plantação podia durar mais de 15 anos. A mão-de-obra era tão barata que as multinacionais ganhavam muito dinheiro.”

O presidente cubano termina o artigo elogiando a decisão do governo brasileiro de quebrar a patente do medicamento Efavirenz e da solução “mutuamente satisfatória” da disputa com a Bolívia em torno das duas refinarias de petróleo que a Petrobras mantém no país. “Reitero que sentimos profundo respeito pelo irmão povo do Brasil”, disse Fidel.

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, que fornece petróleo para Cuba, também já fez críticas públicas ao etanol.

Com roteiro de Marluce Melo, Maria Luisa Mendonça, Plácido Júnior e Tiago Thorlby, o documentário Bagaço traz depoimentos de cortadores de cana que ainda estão na ativa. A direção é de Maria Luisa Mendonça e Tiago Thorlby e a edição, de Hiran Cordeiro.

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